Vincent Lindon em


joao lopes
29 Abr 2016 0:32

Há um cliché muito antigo, e também muito simplista, que insiste em fazer crer que o cinema francês é uma colecção de "autores" apenas empenhados em deixar a sua marca através de experimentalismos mais ou menos vistosos… Se outras razões não houvesse para desmentir tal cliché, a pulsão realista que continua a existir em muitos dos seus filmes seria suficiente.

Aí está, justamente, "A Lei do Mercado", de Stéphane Brizé, como mais um exemplo modelar de tal lógica. A sua proposta é tanto mais interessante quanto este retrato de um segurança de um super-mercado envolve reflexos sociais visceralmente franceses, com ecos muito para além da sua dimensão nacional — esta é, afinal, a balada de um homem só que se transfigura num conto moral do nosso presente europeu.
A visão das tensões laborais (o protagonista enfrenta um dilema que pode arrastar a perda do seu próprio emprego) surge, assim, muito para além de qualquer descrição banalmente política, muito menos panfletária. O carácter irredutível de cada personagem emerge como um valor humano que se confunde, ponto por ponto, com um princípio de encenação cinematográfica.
A composição de Vincent Lindon na personagem central constitui um excelente exemplo de outro vector essencial deste registo cinematográfico. A saber: a continuada crença no labor específico dos actores, tratados como elementos fulcrais de qualquer narrativa fílmica — Lindon ganhou o prémio de interpretação masculina em Cannes e também o César de melhor actor.

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