22 Mai 2023 22:06

“A nutrição é uma forma de mostrar os códigos e as regras que regem a nossa sociedade”, disse à AFP a realizadora Jessica Hausner. ” Se uma pessoa não come durante um jantar, os outros sentem-se culpados ou ofendidos. Isso mostra como as regras (alimentares) são rigorosas e importantes na sociedade.

A cena difícil de suportar “não existe para fazer com que as pessoas se sintam desconfortáveis. É para mostrar como funciona a radicalização”, acrescentou referindo-se à sequência com um vómito.

O filme, no seu conjunto, denuncia a radicalização e o sectarismo, enquanto ironiza com as neuroses das sociedades contemporâneas, as carências educativas das famílias abastadas, a inércia face às alterações climáticas ou a obsessão por uma “alimentação saudável”.

“Club Zero” passa-se numa escola de renome num país europeu não identificado.

Desenrola-se em torno de um grupo de adolescentes sob a influência da professora Novak, interpretada por Mia Wasikowska, que defende uma “alimentação consciente”, ao ponto de deixar de comer e de pôr em risco a vida de todos os alunos.

“Por vezes, comparo-me a alguém de outro planeta que olha para nós e (imagino) o que essa pessoa pensaria”, disse a realizadora austríaca.

Para além dos distúrbios alimentares e das aberrações sectárias, o filme ilustra as ansiedades das gerações mais jovens, confrontadas com as alterações climáticas e as desigualdades.

“Penso sempre que se fosse uma adolescente, estaria muito nervosa com o mundo que estamos a herdar”, disse Mia Wasikowska à AFP.

” Acho tocante que os miúdos frequentem esta aula porque se preocupam com o planeta. Muitos deles querem comer menos carne e ser mais conscientes. É essa a beleza da juventude. Mas está tudo a ficar corrompido, sob a influência”.

A fim de preparar o filme, Jessica Hausner e a actriz de “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton, pesquisaram sobre cultos e seitas.

Para a realizadora, a professora tinha de ser sincera nas suas crenças, em vez de ser uma manipuladora. “Ela é uma verdadeira crente e acredita mesmo que está a fazer o que é correcto”, descreveu Wasikowska.

As crianças e a Sra. Novak “começam a acreditar em algo que normalmente consideraríamos como falso e louco. É muito difícil aceitar que as pessoas acreditem genuinamente em ideias devastadoras ou destrutivas”, continuou Hausner.

A sua última longa-metragem, “Little Joe”, esteve em competição em Cannes em 2019 e ganhou um prémio de interpretação para a actriz Emily Beecham.

Tal como esse filme, “Club Zero” inclui um intenso trabalho a nível da cor e da geometria dos cenários.

“Não situo os filmes num determinado tempo ou lugar. Tento criar um estilo visual artificial”, diz a realizadora, que se diz “aborrecida” com o naturalismo.

  • AFP
  • 22 Mai 2023 22:06

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