Documentário
Chelsea Hotel: homenagem ao hotel dos artistas
Já está em exibição o documentário de Abel Ferrara sobre o lendário hotel nova-iorquino que serva de casa a muitos artistas. É o caso da fotógrafa Rita Barros, inquilina de longa data, que conta um pouco da sua vida neste hotel.
Abel Ferrara decidiu prestar homenagem ao passado do Chelsea Hotel relembrando as figuras que por lá deambularam e os momentos chave que marcaram a sua história.O documentário, exibido no festival de Cannes em 2008, já pode ser visto nas salas portuguesas.
O hotel é retratado através de imagens de arquivo, entrevistas a hóspedes e encenações de momentos e pessoas marcantes, como Janis Joplin ou o assassinato de Nancy Spungen, namorada de Sid Vicious, em 1978.
Em "Chelsea Hotel", Ethan Hawke, Dennis Hopper, Grace Jones, Milos Forman, Adam Goldberg, Bijou Phillips e Robert Crumb oferecem testemunhos, encenações, histórias de festas, drogas, mortes... contos do passado e do presente de um hotel onde emergiram tantas personalidades e vozes artísticas em décadas passadas.
Hoje ainda alberga artistas, como a fotógrafa portuguesa Rita Barros. Ela vive no hotel há 27 anos e não tem intenção de sair. Rita mora no apartamento 1008 do Chelsea Hotel, onde Arthur C. Clarke escreveu "2001: Odisseia no Espaço".
"O hotel foi uma Meca artística. Hoje em dia é um hotel que tem uns quantos artistas que ainda vivem aqui" - Rita Barros, fotógrafa, hóspede permanente.
Durante anos fotografou os vizinhos que achava interessantes, e em 1999 compilou e desenvolveu este interesse pela peculiaridade dos inquilinos e publicou o livro de fotografias "15 Anos: Chelsea Hotel". Podemos encontrar nas suas páginas personalidades como Woody Allen, Courtney Love, Deedee Ramone, Virgil Thompson, Bon Jovi e Larry Vickers.
Rita não quer deixar o hotel, mas confessa que o ambiente já não é o mesmo de há uns anos atrás. "O Stanley [Bard] foi quem criou o ambiente do hotel. Era ele que decidia quem aceitava ou recusava e foi ele que estabeleceu as regras do funcionamento deste hotel que eram altamente personalizadas. Uma vez que ele saiu o ambiente mudou bastante, ficando-se sem o centro da energia e do poder de decisão a que estávamos todos habituados".
A fotógrafa portuguesa guarda recordações dos melhores e piores momentos que já passou neste hotel. "Os melhores foram todos os encontros que tive, as pessoas fascinantes que conheci: desde o escultor Barry Flanagan ao poeta Arnold Weinstein. O pior foi decididamente um grande fogo no 7º andar a meio da noite. Acordei com o apartamento cheio de fumo. Não havia maneira de sair do meu apartamento e achei mesmo que não sobreviveria".
Rita Barros cresceu e modificou-se enquanto artista durante a sua permanência no Chelsea, confessando-se inspirada pelo contacto com pessoas e projectos criativos. Ainda assim, já nada é a mesma coisa. "O hotel foi uma Meca artística. Hoje em dia é um hotel que tem uns quantos artistas que ainda vivem aqui", explicou a fotógrafa.
Mas Rita não foi a única portuguesa a marcar presença no Chelsea Hotel ao longo dos anos. A artista fala de como metade de Lisboa ficou em quartos do hotel, ou mesmo na sua casa. "Desde o Manel Reis, António Calpi, Saramago (que detestou), Ana Jota, Zé Pedro Croft, Leonaldo Almeida, etc".
O Chelsea sempre foi um local mítico de paragem obrigatória para os artistas. Hoje em dia vive de recordações e lembranças daquilo que um dia foi...
Breve História do Hotel
O Chelsea Hotel foi construído em 1883 e transformado em hotel em 1905, e era considerado como uma torre intocável e impenetrável para escritores, artistas, músicos e aventureiros. Um sinónimo de boémia, de festas, drogas e arte, que alojou temporária ou permanentemente alguns dos nomes mais sonantes do mundo da arte.
Pelos seus 12 andares passaram Dylan Thomas, Arthur Miller, Greatful Dead, Jean-Paul Sartre, Stanley Kubrick, Janis Joplin, Sid Vicious, Iggy Pop, Jane Fonda, e muitos mais. Aí Andy Warhol filmou "Chelsea Girls" (1966) e Madonna fotografou o seu livro "Sex" (1992).
Stanley Bard esteve na gerência do Chelsea Hotel durante cinco décadas, e foi destituído do seu cargo em 2007. A nova gerência ambicionou transformar o hotel num local capaz de competir com o famoso e elitista Chateau Marmont, o que se mostrou aos olhos de muitos como uma ameaça ao estilo de vida, como o fim de uma era.
A gerência instalou uma nova política de não permanência no hotel por mais de 24 noites seguidos, proibindo que novos inquilinos habitem no Chelsea. Em relação aos habitantes de longa data ainda paira a incerteza de terem ou não que sair.
No ano passado o Chelsea Hotel foi posto à venda. Andre Balazs, Ian Schrager e o próprio Stanley Bard já foram apontados pela imprensa norte-americana como possíveis compradores. Mas o futuro deste marco histórico ainda é incerto.