Obituário  

O seu nome vem dos tempos heróicos da Nova Vaga francesa: com a morte de Chris Marker, perdemos um grande cineasta e experimentador, sempre apostado em desafiar os limites de "documentário" e "ficção".

Falecido a 29 de Julho, dia do seu 91º aniversário, Chris Marker deixa uma obra imensa, plural, de permanente gosto experimental. O seu lendário filme "La Jetée/O Pontão" (1962) pode simbolizar toda uma atitude empenhada em desafiar as fronteiras, materiais ou simbólicas, do próprio cinema: narrado a partir de um tempo apocalíptico, pós-III Guerra Mundial, "La Jetée" é, no essencial, um filme feito com... imagens fotográficas.

Obviamente ligado ao tempo, ao espírito e ao grupo da Nova Vaga francesa, Marker permaneceu, no entanto, como uma figura relativamente marginal (até mesmo por causa do seu empenho em manter um enorme secretismo em torno da sua biografia). Chegou a escrever nos "Cahiers du Cinéma", ainda no tempo de André Bazin, na primeira metade dos anos 50, ficando como um nome indissociável dessa conjuntura de interrogação da herança do cinema clássico.

O seu primeiro trabalho cinematográfico, "Olympia 52" é um documentário, rodado em 16 mm, sobre os Jogos Olímpicos de 1952, em Helsínquia. Em 1953, co-assinou com Alain Resnais e Ghislain Cloquet "Les Statues Meurent Aussi", denunciando a marginalização museológica da escultura africana: o filme só estreou depois de oito anos de interdição, vindo a arrebatar o Prémio Jean Vigo, em 1954.

Títulos como "Le Joli Mai" (1963), "Loin du Vietnam" (1967), "Cinétracts" (1968), "La Bataille des Dix Millions" (1971) ou "Sans Soleil" (1983) podem ilustrar a criatividade de Marker, sempre apostado em desafiar os limites tradicionais de "documentário" e "ficção". Nos últimos tempos, trabalhava em diversas experiências na Net, nomeadamente através da criação de avatars, no Second Life, e plataformas para a divulgação dos seus filmes.

* Há poucos meses, entre nós, três filmes de Chris Marker ("La Jetée", "Sans Soleil" e "Level 5") forma editados em DVD.