Philippe Noiret e Salvatore Cascio: em nome do cinema e da cinefilia


joao lopes
7 Abr 2018 0:04

Será "Cinema Paraíso" (1988) um clássico sobre a cinefilia? O rótulo será francamente discutível, de tal modo o filme de Giuseppe Tornatore se instala numa visão pitoresca, algo paternalista, do fenómeno cinematográfico, favorecendo a ideia segundo a qual as suas maravilhas só são acessíveis aos "simples" de espírito…

Esta é, afinal, a história de um cineasta (Jacques Perrin) que, ao saber do falecimento do projeccionista (Philippe Noiret) da sua aldeia natal, recorda os tempos remotos em que, ainda criança (Salvatore Cascio), através dele descobriu as singularidades do cinema. Mais do que isso: num contexto italiano com alguma censura dos filmes, nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, o seu mentor foi também uma importante figura paterna na sua formação humana.



Tornatore contenta-se em encenar tudo isso como um drama determinista em que as personagens principais existem quase só para ilustrar uma "tese": o cinema seria o lugar de uma inocência primordial, abstracta e exterior à história. Paradoxalmente, o seu filme não deixa de reflectir um desejo de celebração da sala escura que, por curiosa ironia, contrastava com as convulsões de um tempo (finais da década de 80) em que o consumo caseiro dos filmes se tornava um factor (económico & cultural) cada vez mais importante.

O filme está de volta ao mercado português (incluindo lançamento em DVD e VOD), sendo também uma das memórias fulcrais da 11ª edição da Festa do Cinema Italiano. Eis uma revisitação que sublinha a importância da preservação da nossa relação com o passado cinematográfico, na certeza de que ver ou rever, agora, "Cinema Paraíso" será também um modo de avaliar as convulsões da história do cinema ao longo das últimas três décadas.

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