20 Fev 2016 22:46

O filme de Leonor Teles "Balada de um Batráquio" foi consagrado com o Urso de Ouro na 66ª edição da Berlinale. A curta-metragem expõe comportamentos
xenófobos em relação a membros da etnia cigana em Portugal.

"Balada de um Batráquio" aborda a prática, comum em Portugal, do uso de sapos de
cerâmica, por lojistas e proprietários de cafés e restaurantes, para
evitarem a entrada nos seus estabelecimentos de membros da comunidade
cigana, que têm várias superstições ligadas ao animal.

Leonor Teles, que tem raízes ciganas por parte do pai, diz que o filme
"não apresenta só uma problemática, mas tenta, de certa forma,
combatê-la", uma vez que a própria realizadora sentiu a "urgência" de
destruir vários desses sapos em frente à câmara.

"Achei que, neste filme, não podia estar simplesmente a apresentar uma
problemática mas também tinha de tentar inserir um pouco daquilo que
pode vir a ser a resposta em relação a este comportamento xenófobo",
explicou a realizadora, em declarações à Lusa, em Berlim, quando da
exibição da obra na secção competitiva.

A cineasta já se tinha centrado nesta comunidade no primeiro filme,
"Rhoma Acans", e confessou que a impotência sentida na primeira película
a inspirou a desenvolver uma nova abordagem, em "Balada de um
Batráquio".

"Havia esse sentimento de frustração em relação ao filme anterior, que
tinha uma personagem a quem não consigo mudar a vida. E é ingénuo da
minha parte achar que poderia fazer isso. Essa ideia de querer fazer
alguma coisa, em vez de estar apenas a ilustrar, era tão forte, era uma
urgência. Neste filme decidi: não vamos ficar com frustrações, vamos
intervir, vamos partir a loiça toda!", explicou a realizadora.

BALADA DE UM BATRÁQUIO clip#01 from Uma Pedra no Sapato on Vimeo.


O filme concorria pelo urso de ouro na secção de curtas-metragens, do
Festival de Cinema de Berlim, com outras 24 películas, incluindo outra
portuguesa, "Freud und Friends", de Gabriel Abrantes.

A 66.ª edição da Berlinale contou com a
presença de oito filmes de produção portuguesa, três dos quais na
competição oficial, incluindo a longa-metragem "Cartas de Guerra", de
Ivo Ferreira, inspirada na correspondência de António Lobo Antunes (ver artigo recomendado).

Este é o segundo Urso de Ouro atribuído a um filme português no Festival de Berlim. Em 2012, a curta-metragem "Rafa", de João Salaviza, também foi distinguida com o prémio máximo do festival.

No mesmo ano, a longa-metragem "Tabu", de Miguel Gomes, recebeu o Prémio
Alfred Bauer, para obras inovadoras, e o prémio da crítica
internacional para o melhor filme em competição, nessa edição do
Festival de Berlim.

  • Cinemax com Lusa
  • 20 Fev 2016 22:46

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