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Comédia mexicana
ou a hipótese realista
Em diversos autores do actual cinema mexicano, deparamos com um sentido cómico que não exclui o realismo. O novo filme de Carlos Cuarón é mais um exemplo feliz dessa estratégia criativa
Vale a pena descobrir a alegria criativa de um filme como "Rudo e Cursi" e, mais do que isso, o modo como nele se exprime uma vitalidade genuinamente popular — trata-se de retratar dois imãos pobres, seduzidos pelos cifrões e ilusões do mundo do futebol, sem que isso implique qualquer cedência ao paternalismo mais ou menos pitoresco com que, muitas vezes, universos deste género são retratados (veja-se o sistema telenovelesco).
Carlos Cuarón, argumentista e realizador (irmão de Alfonso Cuarón), personifica, assim, um cinema mexicano que se quer fortemente ligado ao seu tempo e, antes de tudo o mais, ao seu público nacional. "Rudo e Cursi" é uma comédia cujo humor não implica uma "fuga" à própria realidade retratada. Bem pelo contrário: o riso é tanto mais directo (e, por vezes, perturbante) quanto surge alicerçado em componentes de natureza realista.
Quer isto dizer que o realismo não pode, nem deve, ser entendido como uma hipótese que exclua componentes específicas de determinados géneros. Faz sentido, por isso, descrevermos "Rudo e Cursi" como uma comédia realista. Paradoxal? Talvez, mas pleno de intencionalidade e energia.
RUDO E CURSI - RUDO Y CURSO
De Carlos Cuarón
Com Gael García Bernal, Diego Luna, Guillermo Francella
Comédia
103m
M/12
Estados Unidos da América, México
2008
Ouça a opinião de João Lopes
por João Lopes
publicado 19:40 - 15 junho '09