Olivia Colman e Anthony Hopkins: o que é o espaço/tempo?


joao lopes
10 Mai 2021 1:24

A notável composição "oscarizada" de Anthony Hopkins em "O Pai", no papel de um velho senhor atingido de demência, ajuda-nos a sublinhar uma diferença que está longe irrelevante. Assim, a regra deste tipo de histórias consiste em intensificar o dramatismo vivido por aqueles que olham o paciente, cada vez mais confundidos e perturbados com o carácter errático e desconexo do seu comportamento. Mas que acontece se se inverter essa lógica? Ou seja, e se perguntarmos: como é que ele nos vê?


Na verdade, a sinopse do filme do francês Florian Zeller, adaptando a sua própria peça (já encenada por João Lourenço, com João Perry, no Teatro Aberto), é insuficiente para compreendermos a sua dinâmica interna. Não se trata apenas de expor o agravamento do estado de saúde do pai, mas de observar como a sua perda de coordenadas — espaço/tempo — afecta também todas as outras personagens.
Lembremos, por isso, que a composição de Hopkins não pode ser dissociada da subtil presença de Olivia Colman (no papel da filha), a par de Olivia Williams, Imogen Poots ou Rufus Sewell. Num contexto tão saturado por filmes e personagens que vivem de artifícios consagrados como matéria "obrigatória" do cinema, este é também um filme de retorno às singularidades do factor humano.
Pormenor a ter em conta: na adaptação da peça, Zeller contou a colaboração (certamente preciosa) de um grande narrador como o inglês Christopher Hampton, especialista neste tipo de re-escrita. Dramaturgo, argumentista e também realizador — por exemplo, do magnífico "Carrington" (1995), com Emma Thompson e Jonathan Pryce —, Hampton partilhou o Óscar de argumento adaptado com o própio Zeller; foi a sua segunda estatueta dourada, depois da que lhe foi atribuída, na mesma categoria, por "Ligações Perigosas" (1988), de Stephen Frears.

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