Eleanor Coppola (ao centro), dirigindo Diane Lane e Arnaud Viard — filmar o jogo da vida


joao lopes
29 Jun 2017 0:52

É verdade: aos 81 anos, Eleanor Coppola, mulher de Francis Ford Coppola, mãe de Sofia Coppola, decidiu realizar um filme. Não é um facto surpreendente na sua carreira, quanto mais não seja porque, ao longo de muitos anos, tem sido colaboradora do marido; além do mais, co-assinou o documentário "Corações das Trevas" (1991), sobre a rodagem de "Apocalypse Now" (1979). O certo é que, através de "Paris Pode Esperar", Eleanor propõe-nos a mais inesperada das variações. A saber: um melodrama serenamente ancorado nas memórias clássicas de Hollywood.

Tudo se passa entre um trio: um produtor de cinema, Michael (Alec Baldwin), a sua mulher Anne (Diane Lane) e Jacques, um associado do produtor (Arnaud Viard). Aliás, em boa verdade, quase tudo acontece entre duas dessas personagens: quando Michael parte de Cannes para Budapeste, a fim de tratar de negócios, Jacques oferece-se para conduzir Anne a Paris, aproveitando para lhe mostrar algumas das maravilhas da França interior — só que a viagem que deveria durar cerca de sete horas se vai prolongando por mais de dois dias…



Sendo Jacques um sedutor "profissional", com especial fixação nas virtudes eróticas da gastronomia, cedo compreendemos o cliché que está em jogo: será que Anne vai ceder aos jogos de Jacques? Acontece que, evitando qualquer efeito de "tese", interessando-se, realmente, pela complexidade afectiva das suas personagens, o filme vai mostrando como o jogo da vida excede o jogo das convenções (cinematográficas ou morais).

No fundo, Eleanor Coppola vem reafirmar o mais velho valor cinematográfico (e cinéfilo): uma boa história não depende exactamente do aparato dos seus meios técnicos, antes se enraiza na vibração das suas personagens e na dinâmica das peripécias que protagonizam. Sem esquecer que a coesão de tudo isso envolve uma genuína paixão pelo trabalho dos actores — Diane Lane, em particular, com 52 anos, vem confirmar o seu imenso e muito esquecido talento.
Para que tudo fique em família, lembremos apenas que dois dos primeiros papéis marcantes na filmografia de Diane Lane aconteceram em "The Outsiders" e "Rumble Fish", ambos de 1983, ambos dirigidos pelo papá Francis — eis o trailer de "The Outsiders", com nostalgia q. b.

+ críticas