Estreias
Costa-Gavras regressa ao "filme-político"
Realizador de títulos célebres como "Z - A Orgia do Poder" (1969), Costa-Gavras regressa ao seu gosto pela encenação dos bastidores da política: infelizmente, em "Comportem-se como Adultos", a análise conjuntural vai-se esgotando numa dramaturgia esquemática.
Christos Loulis no papel de Yanis Varoufakis — encenar a política como um acto heróico
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Comportem-se Como Adultos
Grécia 2015: a economia está no caos e o país à beira da bancarrota. Um novo governo revolta-se contra as regras restritivas da UE e inspira milhões de Europeus. Um filme baseado nas memórias políticas de Yanis Varoufakis.
Face ao novo trabalho de Costa-Gavras, "Comportem-se como Adultos", vale a pena recordar que este cineasta francês, nascido na Grécia, foi um dos símbolos do chamado "filme-político" tal como foi praticado ao longo dos anos 60/70 na produção europeia — lembremos os exemplos de "Z - A Orgia do Poder" (1969), "A Confissão" (1970) e "Estado de Sítio" (1972).
Em boa verdade, Costa-Gavras nunca abandonou tal modelo, mesmo se, pelo meio, foi assinando títulos com outras características, com destaque para aquele que é, a meu ver, um dos seus melhores filmes: "Cidade Louca" (1999), um "thriller" com Dustin Hoffman e John Travolta. Agora, em "Comportem-se como Adultos", trata-se de adaptar o livro homónimo de Yanis Varoufakis, evocando as dramáticas convulsões da crise grega de 2015 no seio da União Europeia.
Dir-se-ia que o filme tem a seu favor o facto de, a um certo nível, funcionar como um "relatório" de informações quase jornalísticas. Em cena está o confronto de Varoufakis, então ministro das Finanças da Grécia, com personalidades como Wolfgang Schäuble (ministro das Finanças da Alemanha), numa espécie de "telejornal" delirante e absurdo. Para Varoufakis e Costa-Gavras, a moral da história está decidida desde o primeiro momento. A saber: há quem faça política de modo infantil...
Costa-Gavras encena Varoufakis como um herói sem nuances, um cruzado impoluto face à intransigência das instâncias europeias, o que terá muitas e pertinentes razões políticas e morais, mas gera um filme esquemático e maniqueísta, não mais que um "tele-dramático" sobre a política europeia. A própria interpretação de Varoufakis por Christos Loulis vai nesse sentido — não chega a ser uma personagem, filmicamente é apenas um símbolo imaculado que estabelece os limites da própria narrativa.
Crítica de João Lopes
publicado 23:48 - 29 novembro '19