Crónica de um quotidiano romeno
"Sieranevada" — primeiro filme a ser apresentado na secção competitiva de Cannes

Cannes 2016  

Crónica de um quotidiano romeno

A secção competitiva do 69º Festival de Cannes começou com uma produção de origem romena: "Sieranevada", de Cristi Puiu, aposta num registo eminentemente realista, capaz de expor as convulsões de um quotidiano familiar.

Trailer/Cartaz/Sinopse:
 Crónica de um quotidiano romeno
Sieranevada Três dias após o ataque terrorista nos escritórios da revista Charlie Hebdo e quarenta anos após a morte do seu pai, Lary, um neurologista no auge da sua carreira, prepara-se para passar o seu sábado numa reunião de família para assinalar a data e celebrar o falecido. Mas a ocasião não corre de acordo com as espectativas. Forçado a confrontar os seus medos e o seu passado, a repensar o lugar que ...

Será que a 69ª edição do Festival de Cannes vai ser um acontecimento dominado pelo realismo. Ou melhor: pelos realismos? É cedo para qualquer tipo de avaliação nesse sentido. O certo é que, nos elementos divulgados sobre vários filmes a concorrer para a Palma de Ouro, parece haver uma "propensão" realista que, pelo menos, o primeiro a ser apresentado veio confirmar.

Trata-se de "Sieranevada", o novo trabalho do romeno Cristi Puiu. Vale a pena lembrar que Puiu integra uma certa "nova vaga" da produção da Roménia, a que pertence, por exemplo, Christian Mungiu (também presente na competição deste ano). Mais do que isso: Puiu assinou "A Morte do Sr. Lazarescu", precisamente o filme que lançou esse "movimento", vencendo a secção "Un Certain Regard" em Cannes/2005.

Desta vez, Puiu encena um ritual familiar motivado por uma celebração religiosa, evocando a figura do pai, recentemente falecido. A celebração tem lugar na própria casa da viúva, evoluindo como qualquer coisa sempre à beira do absurdo, de tal modo as mais inusitadas atribulações e interrumpções assolam aquela casa — dir-se-ia que o resultado tem tanto de drama suspenso como de risonho "vaudeville" (inclusive no permanente abrir e fechar de portas).

Com um método de filmagem que parece querer "fingir" uma sensação de imponderabilidade documental (os actores entram e saem de campo, sem que sejam necessariamente acompanhados pela câmara), Puiu consegue fixa-se no inclassificável do quotidiano e nos seus infinitos incidentes — além do mais, como quase sempre acontece nos filmes romenos que vamos conhecendo, tudo isto passa por um lote de brilhantes actores, sabendo expor a humana fragilidade do dia a dia.

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publicado 23:36 - 11 maio '16

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