Vicky Krieps e Tim Roth: à procura da herança de Ingmar Bergman...


joao lopes
24 Out 2021 23:20

Há filmes que vivem das inspirações que convocam, esquecendo-se que a escolha de uma dessas inspirações, por mais interessante ou pertinente que possa ser, está longe de ser uma caução para os seus resultados. Creio que "A Ilha de Bergman" é um esclarecedor exemplo de tais equívocos.

Que acontece, então? Pois bem, seguimos as atribulações de um casal, interpretado por Vicky Krieps e Tim Roth. Ambos trabalham em cinema, ele é mesmo um cineasta com algum reconhecimento, e estão de visita à ilha onde Ingmar Bergman viveu, trabalhou e rodou vários dos seus filmes. Dito isto, o filme contenta-se em sugerir que há uma interacção (digamos, afectiva) entre as personagens e os lugares que visitam. Tudo isso acontece através de uma colecção de trocadilhos psicológicos mais ou menos previsíveis e, francamente, a certa altura completamente banais.

A pouco e pouco, a eventual curiosidade cinéfila de mostrar os lugares que têm a marca de Bergman — e onde existem estruturas para a conservação e divulgação da sua obra — vai-se esgotando numa espécie de “turismo cultural” simbolizado nas personagens, profissionais de cinema, a trabalhar em argumentos inspirados na herança de Bergman.

Dir-se-ia que a realizadora francesa Mia Hansen-Løve, também responsável pelo argumento, perdeu uma excelente oportunidade de fazer aquilo que poderia ser um documentário sobre a ilha de Fårö, os seus lugares, o seu imaginário e, num certo sentido, a sua imaginação — assim, "A Ilha de Bergman" não passa de um objecto banalmente decorativo e auto-complacente.

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