Isabelle Huppert e Jérémie Rénier: deambulando através de um banal exercício de estilo
Cannes 2019
Drama sem dramatismo
"Frankie", de Ira Sachs, ficará, por certo, como um dos títulos menos interessantes da selecção de Cannes — é pena porque, além do mais, nele encontramos actores tão talentosos como Isabelle Huppert, Brendan Gleeson, Marisa Tomei, etc.
Presente na competição de Cannes, "Frankie", uma realização do americano Ira Sachs, parte de um dispositivo hiper-conhecido: um grupo de personagens ligadas por laços familiares, afectivos ou profissionais (mesmo se algumas delas não se conhecem) reune-se num cenário mais ou menos deslumbrante... Dos seus (re)encontros irão emergir novos factos e relações, até porque a personagem central — Frankie, uma actriz interpretada por Isabelle Huppert — enfrenta uma grave situação de saúde.
E se o dispositivo é antigo, o respectivo desenvolvimento é francamente medíocre. A redundância dos diálogos, o tratamento "decorativista" dos cenários, enfim, a inconsistência da trama narrativa vão reduzindo "Frankie" a um banal exercício de estilo sem qualquer consistência dramática: Talvez tudo tenha sido pensado como uma homenagem ao cinema de Eric Rohmer... Revisite-se "A Minha Noite em Casa de Maud" (1969) ou "O Joelho de Claire" (1970) e avaliem-se as diferenças...
O lote não deixa de ser surpreendente: Isabelle Huppert compõe Frankie "em piloto automático", estando acompanhada por profissionais tão dotados como Brendan Gleeson, Marisa Tomei, Greg Kinnear e Jérémie Rénier... E fica a curiosidade de tudo acontecer na zona de Sintra (trata-se de uma co-produção França/Portugal/Bélgica). Infelizmente, fica também uma sensação de doloroso desperdício de recursos e talentos.
por João Lopes
publicado 00:55 - 22 maio '19