VENEZA 2015: "EVEREST"
"Everest" não retira o fôlego
Um episódio trágico ocorrido na mais alta montanha do mundo é dramatizado num filme que transmite a agressividade da escalada mas não provoca emoção quanto à sorte dos alpinistas.
Subir ao topo do Everest não é para qualquer viajante ou alpinista, por mais destemido ou aventureiro que seja. Diversas expedições correram mal, mas na história das escaladas mais trágicas destaca-se a que aconteceu em 1996 envolvendo cerca de 40 alpinistas organizados em três grupos.
Nessa época as expedições tornaram-se numa atividade turística comercial e o filme do islandês Baltasar Kormakur demonstra os problemas operacionais que surgiram quando demasiados alpinistas tentaram vencer a montanha A escalada dos três grupos foi marcada para o mesmo dia, 10 de maio, com o objetivo de aproveitar as boas condições metereológicas, o que obrigou a um esforço de coordenação.
Mas essa cooperação nem sempre é eficaz no terreno, sobretudo quando dezenas de alpinistas cruzam locais mais difíceis, como a derradeira passagem de acesso ao cume, um estreito caminho emparedado onde cabe apenas uma pessoa.
Em situações como esta, o filme "Everest" tem a capacidade e o mérito de colocar o espectador no cenário e transmite uma perspetiva muito eficaz dos problemas que se colocam nesta escalada arriscada e difícil.
O argumento do filme é essencialmente baseado na obra "Into Thin Air", do escritor Jon Krakauer, um sobrevivente desta expedição e que é interpretado pelo ator Michael Kelly.
Através dessa abordagem realista temos uma perspetiva ampla sobre a situação de diferentes pessoas envolvidas no drama: alpinistas, socorristas e até familiares. E o filme consegue valorizar uma série de personagens diferentes como Beck, um texano que sobreviveu (Josh Brolin), ou Yasuko (Naoko Mori), uma japonesa que morreu e tornou-se numa heroína ao ser a primeira mulher a escalar as maiores montanhas em todos os continentes.
"Everest" tenta ser um filme catástrofe à moda antiga mas sem ação habitual nos filmes do género, reconstituindo os acontecimentos com o espírito de um produção independente que é filmada numa grande escala visual.
Esse compromisso acaba por fragilizar os resultados: as personagens geram empatia com o espectador, a profundidade de algumas cenas e os grandes planos da montanha valorizam a projeção em 3D e nas salas Imax, mas perde-se intensidade dramática.
Curiosamente, o climax do filme é a concretização da escalada. Nessa altura parece que podemos tocar o cume do Everest. Depois, durante a descida, surgem diversos problemas que são agravados por uma tempestade perfeita. Nessa segunda etapa da história não somos verdadeiramente tocados pela sorte trágica de algumas daquelas pessoas, nem nunca perdemos o fôlego.