19 Nov 2017 2:20

Com o seu novo filme, “Peregrinação”, inspirado no livro épico de Fernão Mendes Pinto, João Botelho criou uma narrativa insólita e sedutora, a meio caminho entre a evocação histórica e o espectáculo musical. Em boa verdade, podemos dizer que todos os seus filmes inspirados em memórias literárias da nossa história possuem uma musicalidade muito própria — com destaque obrigatório para o bem chamado “Filme do Desassossego”.

"Filme do Desassossego” assume-se, por assim dizer, como parente cinematográfico do livro, segundo um processo narrativo e simbólico que não tenta "ilustrar" o livro — trata-se, isso sim, de ver, ou melhor, de escutar como as palavras do poeta continuam a ecoar no nosso presente, na nossa sensibilidade.

 

A voz de Carminho, tal como um quarteto de cordas de Mozart, são presenças emblemáticas da banda sonora de um filme em permanente movimento de enlace e desenlace com as palavras do poeta. Nesta perspectiva, João Botelho não fez um filme biográfico. Ou melhor, fez um filme que demonstra que a biografia de Pessoa só pode ser feita como uma celebração cúmplice da sua própria escrita




Lançado em 2010, “Filme do Desassossego” ficou como uma nova e brilhante variação de um processo de revisitação — e apetece dizer de reconquista — da nossa própria história, processo que João Botelho já tinha ensaiado em “Quem És Tu?”, a partir do “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett, ou “A Corte do Norte”, segundo o romance de Agustina Bessa-Luís. É um trabalho em ziguezague, entre passado e presente, história e mitologia.
  • cinemaxeditor
  • 19 Nov 2017 2:20

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