Luz, sombra, som e silênciosegundo Pedro Costa
Jeanne Balibar filmada por Pedro Costa:
as palavras que se dizem e cantam

Cinema PortuguêsMais Cinema  

Luz, sombra, som e silêncio
segundo Pedro Costa

Pedro Costa acompanha os ensaios de Jeanne Balibar: começou como um teledisco, acabou por dar origem a um "documentário" invulgar

De vez em quando, importa não termos medo — isto é, não cedermos às facilidades "descritivas" da televisão — e lembrarmos que o cinema é apenas um mágico bailado de contrários. Quais? Os mais primitivos: luz e sombra. E também: som e silêncio.

O novo filme de Pedro Costa — "Ne Change Rien" — é apenas um exercício sobre essas forças ancestrais. Mais concretamente, a actriz e cantora francesa Jeanne Balibar convidou-o para dirigir um teledisco de uma das suas canções. Acontece que Pedro Costa foi ficando: observando-a, filmando-a, registando os momentos de hesitação, descoberta e, por vezes, discreta euforia que podem marcar os ensaios.

O resultado é um filme de características documentais, mas para o qual a palavra documentário é escassa. Isto porque "Ne Change Rien" acaba por ser, no essencial, uma contemplação — eminentemente cúmplice — do próprio trabalho das formas: como se conquista um som? Ou ainda: o que é isso de dizer/cantar palavras, nelas investindo ideias, sentimentos, mistérios e transparências?

E é inevitável lembrarmos que Pedro Costa é o autor de filmes de crua intimidade como "No Quarto da Vanda" (2000). Que é como quem diz: um cineasta que sabe olhar os espaços mais secretos, para neles (e através deles) expor a verdade mais despojada do ser humano. Será preciso acrescentar que estamos perante um dos grandes criadores do cinema português?



NE CHANGE RIEN


De Pedro Costa
com Jeanne Balibar
Documentário, Musical
97m
M/12
POR
2009
  >Ouça a crítica de João Lopes


por
publicado 16:48 - 21 novembro '09

Recomendamos: Veja mais Artigos de Cinema PortuguêsMais Cinema