o Prémio Cecil B. De Mille
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Globos: à espera dos Oscars
Passaram os Globos, estão a chegar os Oscars: que imagem Hollywood irá dar da sua própria situação artística, industrial e comercial?
A sugestão segundo a qual os Globos de Ouro da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood funcionam como uma "antecipação" dos Oscars não passa disso mesmo: uma sugestão (nos últimos cinco anos, apenas uma vez o Oscar de melhor filme foi atribuído a um título premiado numa categoria equivalente pelos Globos).
Em todo o caso, valerá a pena perguntar, desde já, que peso poderão ter nos Oscars (7 de Março) e, mais concretamente, nas respectivas nomeações (2 de Fevereiro) as transformações tecnológicas da nova idade digital. Dito de outro modo: o impacto comercial de "Avatar" poderá ou não pesar nas opções da Academia de Hollywood?
Há uma maneira pouco estimulante de encarar tal questão: é a de avaliar se os Oscars premeiam os sucessos "comerciais" ou os filmes de "autor". De facto, a história dos Oscars — e, genericamente, o património de Hollywood — contrariam tal maniqueísmo que é, em última instância, banalmente moralista.
O que está em jogo decorre do facto de a Academia ser, naturalmente (e muito legitimamente), uma emanação de uma gigantesca indústria que não pode deixar de defender a sua própria sobrevivência. Nessa perspectiva, o impacto de "Avatar" nas salas de todo o mundo abre uma hipótese a que os quase seis mil membros da Academia não poderão deixar de ser sensíveis: a de que o digital — e, em particular, o 3-D — ajudará a definir uma nova era de produção e, sobretudo, uma exuberante conjuntura de consumo.
Resta saber que efeito terá o facto de o número de nomeados para melhor filme ir aumentar de cinco para dez (numa opção que não será acompanhada pelas outras categorias, nomeadamente a de realização). Será que tal aumento pode gerar um panorama mais abrangente, porventura mais imprevisível? Ou os Oscars correm o risco de se transformar numa "feira" agitada em que já não é possível detectar escolhas minimamente consistentes ou uma estratégia coerente?
Uma coisa é certa: nada disso poderá dispensar a noção — prática e teórica, artística e económica — segundo a qual o cinema é também um património que importa conhecer e preservar. Daí que tenha sido tão importante a consagração de Martin Scorsese com o Prémio Cecil B. De Mille: afinal de contas, enquanto mentor da defesa do património fílmico, o autor de "Taxi Driver" tem sido também alguém que nos convoca, sistematicamente, para a necessidade de não menosprezarmos o labor da memória.
por João Lopes
publicado 14:16 - 19 janeiro '10