"Broker-Intermediários", um dos filmes de Cannes em 2022, realizado por Hirokazu Kore-eda, em estreia nos cinemas portugueses.
Cinema Asiático
Hirokazu Kore-eda: o cinema japonês está muito "virado para si mesmo"
A indústria cinematográfica japonesa está subfinanciada, "virada para si mesmo" e já não atrai jovens talentos, diz Hirokazu Kore-eda, realizador de "Broker - Intermediários", que estreia esta semana nos cinemas portugueses.
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Broker - Intermediários
Sang-hyun é dono uma lavandaria, mas vive permanentemente endividado. Dong-soo, cresceu num orfanato e trabalha numa associação que acolhe bebés abandonados, deixados numa caixa criada para esse fim.Uma noite, debaixo de chuva torrencial, os dois levam secretamente um bebé depositado na Caixa dos Bebés. No dia seguinte, So-young, a mãe, regressa inesperadamente para recuperar o filho Woo-sung. Ao ...
Filme da competição oficial do Festival de Cannes 2022, rodado na Coreia do Sul, "Broker - Intermediários" valeu a Song Kang-ho o prémio de melhor ator do certame graças à personagem do dono de uma lavandaria que tenta encontrar uma boa família para um bebé abandonado.
O cineasta de 60 anos, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2018 por "Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões", acredita que as atitudes complacentes e as duras condições de trabalho na indústria audiovisual impedem as produções japonesas de alcançar o mesmo sucesso no estrangeiro que as obras sul-coreanas.
"O nosso ambiente criativo tem de mudar", disse Kore-eda numa entrevista à AFP, apontando o dedo aos baixos salários, longas horas de trabalho e as incertezas sobre o futuro enfrentado por aqueles que agora começam a trabalhar.
"Ao longo da minha carreira, pude concentrar-me no aperfeiçoamento da minha arte. Mas olhando em volta, vejo que os jovens já não escolhem trabalhar no cinema, ou na televisão".
Kore-eda escolheu colaborar com três jovens cineastas em "A Makanai: Na Cozinha da Casa Maiko", minissérie adaptada de uma manga que será lançada em este mês na plataforma de streaming Netflix.
"Fui eu que lhes roubei ideias", brincou o realizador, elogiando as qualidades dos seus jovens colegas e o seu "conhecimento do material, muito melhor" do que o seu próprio.
A animação japonesa é apreciada em todo o mundo, mas os filmes e séries produzidos no arquipélago lutam para sobreviver no estrangeiro, em comparação com êxitos sul-coreanos como a série "Squid Game", ou "Parasita", de Bong Joon-ho, a primeira longa-metragem em língua estrangeira a ganhar o Óscar de melhor filme em 2020.
O governo sul-coreano não poupou despesas no apoio à sua indústria audiovisual, permitindo a criação de muitos êxitos globais nos últimos 20 anos, mas "durante esse tempo, o Japão estava a olhar para dentro" porque achava o mercado local era suficiente, observa Kore-eda.
"É por isso que existe um tal fosso" entre os dois países, diz o cineasta, que recentemente optou por exercer fora do arquipélago. Antes de "Broker", rodou "A Verdade" em França com Catherine Deneuve e Juliette Binoche. Estas experiências permitiram-lhe compreender melhor as deficiências do cinema japonês, explica.
Kore-eda e outros realizadores japoneses apelaram este ano à criação de um equivalente local do Centro Nacional do Cinema (CNC) francês de forma a melhorar o financiamento da criação audiovisual e as condições de trabalho.
De acordo com um inquérito governamental japonês de 2019, dois terços dos trabalhadores do cinema no Japão estavam descontentes com o seu salário, com as longas horas de trabalho, e preocupados com o futuro da indústria.
"Os cineastas da minha geração, e eu próprio, estamos resignados ao facto de já não podermos viver apenas dos nossos filmes", disse Hiroshi Okuyama, 26 anos, um dos realizadores envolvidos na nova série Netflix.
Hirokazu Kore-eda e outros cineastas também falaram publicamente no início de 2022 após várias actrizes terem acusado um realizador japonês de agressão sexual.
Os seus apelos para combater o assédio, num país pouco conquistado pelo movimento #MeToo2, que começou em Hollywood em 2017, levaram o sindicato dos realizadores japoneses a tomar uma posição contra o assédio, "um grande passo em frente", saúda Kore-eda.
Contudo, pede que se faça mais, incluindo a protecção das vítimas, e lamenta que o assédio sexual no Japão ainda seja "considerado um problema de pessoas, quando deveria ser tratado como um problema estrutural".
Questionado sobre os seus próximos projectos, Kore-eda disse que queria analisar as questões da imigração e do abandono, e trabalhar sobre "um épico". "Há demasiadas coisas que quero fazer", diz ele.
"Broker - Intermediários" estreia hoje nas salas de cinema portuguesas.
por AFP
publicado 12:02 - 05 janeiro '23