Ken Watanabe e Julianne Moore — um elenco vencido por vulgaridades dramáticas


joao lopes
11 Nov 2018 0:49

Há filmes maus que nascem de atribulações mais ou menos detectáveis e compreensíveis — tudo correu mal, desde a concepção original ao trabalho de rodagem… Acontece. Mas há filmes maus que instalam no espectador uma sensação perturbante e, de alguma maneira, embaraçosa — dir-se-ia que, entre os envolvidos, ninguém desejou que aquele filme acontecesse…

"Bel Canto", realizado por Paul Weitz, com Julianne Moore no papel central, é um desses filmes. A sua mediocridade é tanto mais surpreendente quanto, para além de Moore, actriz de invulgar talento ("oscarizada" em 2015, com "O Meu Nome É Alice"), encontramos um diversificado elenco internacional em que figuram, por exemplo, o japonês Ken Watanabe ("Cartas de Iwo Jima") e o alemão Sebastian Koch ("As Vidas dos Outros").
Esta é a história de uma situação de reféns, gerada pela acção de um grupo guerrilheiro, algures na América do Sul. Moore interpreta uma cantora lírica que se vê envolvida em tal situação, sendo, desde logo, penoso assistir ao péssimo playback (a partir de registos de Renée Fleming) a que actriz se obriga… ou é obrigada.
Da definição psicológica das personagens à simples gestão dramática do espaço, passando pela desastrada direcção de actores, "Bel Canto" parece ter sido executado por uma equipa de (maus) amadores, serenamente à deriva. Enfim, uma crise cíclica que ameaça o cinema é esta: destruir os talentos que foram mobilizados para uma determinada produção — os resultados são de uma tristeza infinita.

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