Kirk Douglas em

11 Mai 2019 0:11

Ao descobrirmos o filme "Anoitecer", do húngaro László Nemes, deparamos com uma abordagem invulgar da Primeira Guerra Mundial (ele que já dirigira "O Filho de Saul", sobre a Segunda Guerra Mundial). Estamos, afinal, perante uma nobre tradição temática, ética e política em que encontramos a referência incontornável de Stanely Kubrick e do seu "Paths of Glory".

Quase sempre, quando abordamos a obra de Kubrick, começamos com filmes da década de 60 como “Dr. Estranhoamor” ou “2001: Odisseia no Espaço”, filmes que, afinal, o transformaram num nome lendário. Mas importa recuar a 1957, ano em que surgiu, precisamente, um épico anti-épico sobre a Primeira Guerra Mundial: “Paths of Glory” recebeu o título português “Horizontes de Glória”.


No fragmento aqui em cima, Kirk Douglas e Adolph Menjou confrontam-se num diálogo marcado pela questão central do filme. A saber: o sacrifício de vidas humanas nas trincheiras da guerra perante a indiferença da elite do exército. Para Kubrick, o cenário bélico era uma maneira de expor a sua desencantada visão da violência entre os seres humanos. Além do mais, em termos pessoais, o filme representou também uma viragem na sua vida: foi durante a rodagem de “Horizontes de Glória” que conheceu Christiane Harlan, actriz alemã com quem viria a casar — ela protagoniza uma cena inesquecível, de intensa emoção, em que canta para um grupo de soldados.


“Horizontes de Glória” é um caso admirável de exposição e revelação — exposição das contradições humanas, revelação da racionalidade e da irracionalidade dessas contradições. Em boa verdade, até ao seu prodigioso título final, "De Olhos Bem Fechados" (1999), Kubrick foi um retratista metódico e implacável do Bem e do Mal que coabitam nas nossas identidades.

  • cinemaxeditor
  • 11 Mai 2019 0:11

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