"Lingui", um filme sobre os "laços sagrados" entre as mulheres
CANNES 2021
Laços sagrados, ou uma história do Chade
Representante do Chade na competição oficial de Cannes, "Lingui" tem tanto de denúncia de situações de repressão como de simplismo cinematográfico.
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Lingui
Nos arredores de N'djamena, no Chade, Amina mora sozinha com Maria, a sua filha de apenas 15 anos. O seu mundo já frágil desmorona no dia em que descobre que Maria filha está grávida. A adolescente não quer essa gravidez. Num país onde o aborto não é apenas condenado pela religião, mas também pela lei, Amina vê-se perante uma batalha que parece perdida de antemão...
Como muitos outros filmes contemporâneos, "Lingui", representante do Chade na competição oficial de Cannes, é um objecto profundamente limitado pelos seus "encargos" ideológicos. Estamos, afinal, perante a história de um jovem de 15 anos que quer pôr termo à gravidez que, durante algum tempo escondeu da mãe; acontece que a comunidade muçulmana em que vivem interdita o aborto...
Para encenar este quadro dramático, o realizador Mahamat-Saleh Haroun, também responsável pelo argumento, convoca os "laços sagrados" a que se refere o título original (em França, o filme será lançado como "Les Liens Sacrés"): em causa está a cumplicidade interna da família, factor que o filme vai transfigurando numa estratégia de afirmação das personagens femininas.
Claro que estamos perante um cinema de boas intenções, apontando formas ancestrais de marginalização e repressão — seja como for, no plano da dramaturgia, tudo isso é reduzido a uma formatação dramática com tanto de esquemático como de redundante. É pena que assim aconteça porque, pelo menos, no modo como filma as casas e as ruas daquela comunidade Haroun revela uma atenção ao detalhe realista que poderia ter sustentando outro tipo de narrativa e, seguramente, um filme mais interessante.
por João Lopes
publicado 00:47 - 09 julho '21