22 Ago 2016 17:48

A versão de "Macbeth", assinada pelo australiano Justin Kurzel, com Michael Fassbender e Marion Cotillard, leva-nos a recordar que se trata de uma peça de Shakespeare frequentemente adaptada a cinema e televisão — e também que a mais lendária das suas versões tem assinatura de Orson Welles.

A história de Macbeth é a tragédia de um homem que decide pôr em prática a própria profecia de que foi objecto, arrebatando o trono da Escócia, depois de assassinar o seu Rei. Encenada por Orson Welles, tal tragédia vai-se instalando num espaço assombrado, muito para além de qualquer marca naturalista — em "Macbeth", o natural confunde-se com o pesadelo.


Convém lembrar que "Macbeth", mesmo se persiste como uma das referências mais lendárias na filmografia de Orson Welles, já não é um filme feito com grandes meios. Em 1948, ele tinha assinado "A Dama de Xangai", filme admirável, sem dúvida, mas que comprometeu definitivamente a sua relação com os grandes estúdios — "Macbeth" é, afinal, uma pequena produção dos pequenos estúdios Republic, com um elenco dominado pelos fiéis actores da companhia do Mercury Theatre.

Para a história, "Macbeth" ficou como exemplo de uma encenação cinematográfica que sabe expor e, por assim dizer, materializar a vitalidade das palavras de Shakespeare. Orson Welles regressaria a Shakespeare, para fazer "Otelo", em 1952, mas o seu "Macbeth" possui o pioneirismo e a especial vitalidade de um filme feito, literalmente, fora do sistema — à sua maneira, Welles inventou também a noção de produção independente.

  • cinemaxeditor
  • 22 Ago 2016 17:48

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