um mundo tecido de histórias de ironia e sarcasmo
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Manoel de Oliveira face
aos vícios da alma
Agora trabalhando a partir de um conto de Eça de Queiroz, o cineasta de "O Passado e o Presente" e "Francisca" continua a filmar o amor — com humor
É verdade: Manoel de Oliveira não é especialista em filmes de 4 horas ou mais... "Singularidades de uma Rapariga Loura" tem mesmo 64 minutos!
É quase rídículo termos que lembrar isto. Não porque o cinema, "bom" ou "mau", se possa medir ao minuto. Apenas porque em Portugal — e, em particular, em relação ao cinema português — a promoção da ignorância é uma actividade ainda com muito sucesso.
Digamos, então, que ao adaptar o conto de Eça de Queiroz, Oliveira reencontra as delícias do seu humor. É verdade: ele é também um cineasta de muitos momentos de ironia ou sarcasmo.
Com Ricardo Trêpa, Catarina Wallenstein, Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, Filipe Vargas, Glória de Matos, Miguel Guilherme e Rogério Samora, "Singularidades de uma Rapariga Loura" traça um quadro desconcertante (apetece dizer: anti-romântico) das convulsões do amor e do funcionamento do sagrado espaço conjugal.
Poderemos encontrar os antecedentes deste filme em títulos como "O Passado e o Presente" (1971), uma genuína comédia negra conjugal, ou "Francisca" (1981), esse fascinante painel romanesco conduzido pelo célebre aforismo de Agustina Bessa-Luís: "A alma é um vício".
Talvez possamos mesmo baralhar tais palavras, dizendo que "Singularidades de uma Rapariga Loura" é uma crónica desconcertante sobre os vícios românticos, as almas que os sustentam e os corpos que as desmentem — tudo com a alegria contagiante de quem filma também por amor do cinema.

SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA
De Manoel de Oliveira
Com Catarina Wallenstein, Leonor Silveira, Rogério Samora
Drama, Romance
64m
M/12
Portugal
2009
Ouça o comentário de João Lopes
por João Lopes
publicado 20:01 - 01 maio '09