joao lopes
27 Out 2018 0:47

Pelo menos desde o notável "Lore" (2012), de Cate Shortland, temos deparado com os mais variados exemplos de filmes — sobretudo europeus, mas não só — apostados em trabalhar sobre as memórias da Segunda Guerra Mundial para além (ou aquém) das matrizes clássicas do "filme de guerra". Em boa verdade, pode dizer-se que tal preocupação se tem alargado a diversos momentos emblemáticos das convulsões vividas na Europa ao longo do século XX.

Aí está mais um sugestivo exemplo dessa dinâmica que, tal como muitos outros lançamentos com pouquíssimo (ou nulo) apoio promocional, corre o risco de não encontrar os seus espectadores potenciais… "A Revolução Silenciosa", de Lars Kraume, propõe mesmo uma evocação da revolta húngara de 1956 contra a dominação soviética vista a partir de um lugar inesperado: uma sala de aula da Alemanha de Leste cujos alunos decidem cumprir um minuto de silêncio em solidariedade com o povo húngaro.



Será altamente improvável que nomes como Leonard Scheicher, Jonas Dassler ou Tom Gramenz funcionem como chamada de atenção para um filme como "A Revolução Silenciosa" — o certo é que eles são alguns dos talentosos jovens actores que emprestam especial vibração aos dramas vividos por este grupo de jovens. Afinal de contas, ao reconhecerem-se no desejo de autonomia e liberdade dos húngaros, eles vão abrir um capítulo da sua existência que deixará marcas muito para além da agitação daqueles momentos conturbados.

Já conhecíamos o trabalho de Kraume através de "Fritz Bauer: Agenda Secreta" (2015), outra pesquisa histórica, centrada na investigação para encontrar o criminoso nazi Adolf Eichmann. Com "A Revolução Silenciosa", confirma a sua capacidade de explorar um modelo narrativo tradicional que possui a virtude fundamental de gerar um fresco histórico sem minimizar as diferenças individuais — em tempos de tanta coisa "espectacular" e vazia, vale a pena descobrir um genuíno filme humanista.

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