durante a rodagem de "Aniki-Bóbó"
Cinema Português • Manoel de Oliveira • Cinema Europeu
Memórias das ruas do Porto
Um grande acontecimento para revisitarmos os anos 1930/40 através do trabalho de Manoel de Oliveira: a reposição de "Aniki-Bóbó", acompanhado pela curta-metragem "Douro, Faina Fluvial".
Manoel de Oliveira realizou "Aniki-Bóbó" em 1942, portanto há quase setenta anos. Não poucas vezes, o filme foi visto como um objecto premonitório do neo-realismo (por essa altura, na produção italiana, tão importante na abordagem dos traumas da Segunda Guerra Mundial). As diferenças são muitas, sem dúvida. Mas há um aspecto transversal que vale a pena voltar a sublinhar: como outros autores, de outros países, Oliveira sentia a urgência de filmar a vida das ruas, valorizando, em particular, a singularidade das suas personagens.
Entre a pulsação das ruas e o apelo da fábula — ancorada nas vivências peculiares das crianças —, "Aniki-Bóbó" reflecte um olhar aberto à pluralidade expressiva do cinema. Oliveira é, afinal, um "repórter" do quotidiano que aplica a linguagem cinematográfica para celebrar as emoções menos óbvias das relações humanas.
É, por isso, um acontecimento feliz o facto de a reposição de "Aniki-Bóbó" incluir a passagem, como complemento, da primeira curta-metragem do seu autor: "Douro, Faina Fluvial" (1931). Entre ficção e documentário — e, sobretudo, baralhando as suas opções mais lineares —, Oliveira explorava caminhos de fascinante ambiguidade, afinal exemplarmente modernos.
por João Lopes
publicado 21:54 - 10 dezembro '10