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Memórias de um genocídio

Retomando o modelo do fresco histórico, "Mr. Jones - A Verdade da Mentira" evoca Gareth Jones e a sua investigação do genocídio de perto de 10 milhões de pessoas, em 1932-33, perpetrado pelo aparelho político de Josef Estaline.

Memórias de um genocídio
James Norton no papel de Gareth Jones — denunciando as políticas de Estaline
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 Memórias de um genocídio
Mr. Jones - A Verdade da Mentira A extraordinária história nunca contada de Gareth Jones, um ambicioso jovem jornalista galês que viagem para a União Soviética em 1933 e revela a aterradora verdade por detrás da “utopia” soviética e do regime estalinista. Inicialmente uma investigação jornalística banal, a inquirição de Jones depressa se transforma numa viagem de vida-ou-morte… o que inspira a famosa alegoria de George Orwell – ...

Na abordagem das ambivalências políticas e morais da Revolução Russa de 1917, o filme "Reds" (1981), produzido, realizado e interpretado por Warren Beatty, ocupa um lugar de destaque — evocando a experiência de John Reed na União Soviética (que o conduziria a escrever "Dez Dias que Abalaram o Mundo"), Beatty conseguiu a proeza de cruzar as convulsões do fresco histórico com as emoções do melodrama.

"Mr. Jones - A Verdade da Mentira" não possui, nem de longe, nem de perto, a riqueza dramática e dramatúrgica de "Reds", mas é um filme que faz sentido inserir na mesma região temática. Trata-se, neste caso, de evocar o genocídio, em particular na Ucrânia, gerado pelas políticas de Josef Estaline: em nome da "purificação" da sociedade, sobretudo nas zonas rurais, a fome instalada gerou perto de 10 milhões de mortos.

Dirigido pela polaca Agnieszka Holland, "Mr. Jones" tem como matéria principal essa relação perversa entre "verdade" e "mentira". E escusado será sublinhar a importância da personagem verídica do galês Gareth Jones (James Norton, em composição de contido rigor), figura a meio caminho entre o diplomata e o repórter que testemunhou os factos ocorridos na União Soviética em 1932-33.

Estamos perante um modelo actualmente pouco explorado de evocação histórica, por vezes contaminado pela mais banal retórica televisiva. O filme de Holland não escapa a alguns efeitos dessa retórica, sobretudo na contextualização histórica desenvolvida ao longo do primeiro terço, mas acaba por se distinguir pela contundência da sua visão — a partir da experiência de um homem, redescobrimos uma dantesca tragédia colectiva.

Crítica de João Lopes actualizado às 23:04 - 11 janeiro '20
publicado 23:02 - 11 janeiro '20

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