Alexandre McQueen no trabalho — metódico e surreal


joao lopes
6 Out 2018 23:58

O lendário estilista de moda Alexander McQueen suicidou-se a 11 de Fevereiro de 2010, contava 40 anos. Tanto bastaria (ou bastará) para que qualquer abordagem da sua personagem envolva delicadas componentes. Dito de outro modo: importa preservar a complexidade da pessoa e não ceder a determinismos factuais ou dramáticos.

O menos que se pode dizer de "McQueen", realizado por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, é que se trata de um documentário que sabe preservar a dimensão… documental. Redundância? Bem pelo contrário: trata-se de traçar um retrato que, não excluindo a singularidade do retratado, privilegie a exuberância da obra.
Seguimos, assim, uma linha narrativa pontuada por depoimentos de quem conviveu e/ou trabalhou com McQueen. Com duas componentes que se vão explicitando: primeiro, o modo como a ascensão artística do criador serve também de revelador das diferenças no interior do tecido social britânico; depois, a consolidação de um trabalho com tanto de metódico como de surreal.
Além do mais, há preciosos materiais de arquivo, capazes de nos dar a ver (e sentir) as convulsões emocionais que habitam o trabalho criativo. Em última instância, compreendemos que, enquanto inventor de guarda-roupa, McQueen foi também um invulgar e, por vezes, fulgurante encenador. Apetece dizer que ele próprio poderia ter feito um filme sobre a invenção das suas peças — em qualquer caso, este "McQueen" é uma sóbria e tocante homenagem ao seu génio.

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