6 Set 2021 23:37

A sua presença é indissociável da alegria criativa da Nova Vaga francesa, o seu estilo de representar podia ter tanto de físico como de metafísico: com a saúde muito debilitada desde que, em 2001, foi vítima de um AVC, o actor francês Jean-Paul Belmondo faleceu no dia 6 de setembro, na sua casa de Paris — contava 88 anos.

Como muitos outros profissionais da sua geração, Belmondo começou nos palcos, em meados da década de 50. Ao surgir em "À Bout de Souffle/O Acossado" (1959), contracenando com Jean Seberg, sob a direcção de Jean-Luc Godard, a sua presença, a meio caminho entre o estilo de Humphrey Bogart e o artifício de uma personagem teatral, fizeram dele um novo tipo de estrela — era o primeiro capítulo da Nouvelle Vague.


A colaboração com Godard seria decisiva, em particular naquele que, pelo menos ao longo dos anos 60, foi o mais internacional dos títulos da Nova Vaga: "Pedro, o Louco" (1965), em que, depois de "Uma Mulher É uma Mulher" (1961), Belmondo voltou a contracenar com Anna Karina.
Através do experimentalismo godardiano, afinal enraizado numa sensibilidade profundamente clássica, Belmondo impôs-se como um novo modelo de representação, quase naturalista pela pose, potencialmente trágico através da sua complexidade humana.
A sua carreira oscilou entre os projectos mais ousados e uma imagem de marca de "aventureiro" que, ao longo da década de 70, se foi esgotando. Eis alguns títulos de referência na sua trajectória:
* A SEREIA DO MISSISSIPI (1969) — Sob a direcção de François Truffaut, o par Jean-Paul Belmondo/Catherine Deneuve ficou como uma das mais belas encarnações da utopia romântica — era, afinal, o fim simbólico da Nova Vaga.

* BORSALINO (1970) — Com realização de Jacques Deray, Belmondo e Alain Delon (neste caso também produtor) protagonizavam uma história de gangsters, em Marselha, década de 1930 — foi um dos fenómenos de popularidade da sua carreira.
* A CASA DOS DESEJOS (1972) — Comédia social encenada com a acidez de Claude Chabrol, foi um título particularmente importante para Belmondo, uma vez que marcou a sua estreia como produtor.
* STAVISKY, O GRANDE JOGADOR (1974) — Notável evocação de um escândalo financeiro e político na França de entre os dois conflitos mundiais, com direcção de Alain Resnais, é a maior proeza de Belmondo (também) como produtor.

* ITINERÁRIO DE UMA VIDA (1988) — Não foi o último filme de Belmondo, mas é aquele que, num certo sentido, define a derradeira fronteira da sua carreira cinematográfica — com realização de Claude Lelouch, este "retrato-de-uma-vida" valeu-lhe um César de melhor actor.
Cada vez mais desiludido com a produção cinematográfica, Belmondo decidiu regressar às suas origens teatrais, em finais dos anos 80. Em 1990, numa sala de Paris, obteria um enorme sucesso com "Cyrano de Bergerac", papel que era um dos seus preferidos — sob a direcção de Marion Sarraut, a sua performance foi registada e difundida em formato de telefilme.

  • cinemaxeditor
  • 6 Set 2021 23:37

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