2 Abr 2015 19:09

Leonor Silveira, uma das atrizes preferidas do realizador, recorda desta forma Manoel de Oliveira:

"O Manoel cruzou a minha vida aos 17 anos de forma inesperada e avassaladora. Este encontro determinou o meu rumo pessoal e profissional e, acima de tudo, moldou a minha identidade.

Com ele aprendi a gostar de cinema, a reconhecer o belo e a pensar no poder do tempo. O Manoel desafiou o tempo, desafiou o grande deus Kronos na sua vida e no seu trabalho. O tempo que ciclicamente viu diferentes governos, diferentes gerações, diferentes correntes artísticas, os mesmos erros, os mesmos encantamentos. Sempre faminto de mais vida.

O tempo também deu ao Manoel a sabedoria para não se deixar quebrar pelas tristes repetições da história, sem permitir que o mundo se esqueça que na liberdade criativa não há espaço para concessões.

O meu amor pelo Manoel transcende a partilha artística. Esta é uma perda insuperável mas a memória que me deixa será sempre feliz. Eu era uma atriz improvável. Hoje ele é o meu Mestre e eu a sua musa."

Luis Urbano, que produziu as duas últimas obras de  Oliveira disse hoje, em reação à morte do realizador:

"Trabalhámos com o mestre nos seus últimos dois filmes, ‘O Gebo e a Sombra’ e ‘O Velho do Restelo’.

Estamos profundamente tristes pelo seu desaparecimento. Associamos-nos na dor à sua família, esposa, filhos, netos e bisnetos.

O Manoel partiu e, como o próprio diria, saiu por uma porta. A morte, segundo ele, é uma porta de saída. Ele saiu por essa porta e nós ficamos. Temos presente a memória do tempo em que passámos com ele que foi, diga-se, imensamente divertido.

Agora há que seguir em frente, com redobrada força e convicção, naquilo que fazemos e que é a nossa actividade e que era também o segredo da longevidade do Manoel: O Cinema.

De Paris, o realizador de "Aquele Mês de Agosto" e "Tabu" expressou sem reservas a sua admiração:

Morreu hoje o maior cineasta português de todos os tempos (a par com João César Monteiro).

A sua longevidade fascinava-nos a todos mas não nos deve impedir de reconhecer neste momento a verdadeira singularidade, aquela que poderemos reencontrar nos seus filmes. Aí foi sempre fiel a pulsões e obsessões. Foi acrónica e gloriosamente romântico, pudicamente perverso, alternou candura e ironia até ficarmos sem conseguir distinguir uma e outra. Filmou radicalmente a materialidade das coisas – dos cenários de papelão do teatro à integralidade do texto num romance – para que o cinema se pudesse aproximar de uma verdade: a da evidência.

Se eu e os meus colegas hoje em dia temos oportunidade de filmar devemo-lo em grande medida ao génio e à tenacidade do Mestre Manoel de Oliveira. 

  • cinemaxeditor
  • 2 Abr 2015 19:09

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