Caleb Landry Jones: actor em esforço, personagem à deriva...

17 Jul 2021 18:57

Uma vezes para o melhor, outras para o pior, muitos filmes contemporâneos parecem nascer de uma agenda "ilustrativa" de determinados temas — como se o cinema não se bastasse enquanto narrativa, sendo necessário "justificá-lo" através de um reforço simbólico da gravidade que se reconhece nesses temas. Exemplo? O fácil acesso a armas de fogo, inclusive por indivíduos marcados por determinadas perturbações psicológicas.

É esse o mote que aqui reencontramos. Incluido na competição de Cannes, "Nitram", uma realização do australiano Justin Kurzel, poderá servir de exemplo sintomático de tal tendência. Nele surge o jovem Nitram (Caleb Landry Jones), personagem solitária, à deriva, quer no contexto familiar, quer face aos colegas de escola; um trauma de infância, resultante da sedução que o fogo lhe provoca, parece estar na origem de todos os seus desequilíbrios, a começar pela tendência para assustadoras explosões de violência…



Kurzel não será um exemplo de grandes subtilezas. Pensemos, por exemplo, no seu "Macbeth" (2015), com Michael Fassbender e Marion Cotillard: com meios consideráveis, os resultados pouco mais eram que uma antologia de ostentações formalistas, no limite pouco disponíveis para a complexidade do texto de Shakespeare.

Agora, os problemas repetem-se. É verdade que Landry bem se esforça para compor a sua personagem, a meio caminho entre vulnerabilidade e violência (recordemo-lo em "Antiviral", produção de 2012 assinada por Brandon Cronenberg)… E não é menos verdade que, na personagem da mãe, Judi Dench nos recorda o que é uma actriz sublime… Infelizmente, tudo isso se vai desperdiçando num filme que, à custa de querer ser "demonstrativo", nem sequer cuida das nuances do seu eventual realismo.

  • cinemaxeditor
  • 17 Jul 2021 18:57

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