Bradley Cooper e Lady Gaga — uma clássica história de amor, filmada pela quarta vez


joao lopes
11 Out 2018 16:59

E se, no panorama atribulado do cinema do século XXI, este fosse mesmo o regresso do musical?…

A interrogação regressa com toda a sua nostalgia e sedução. Em todo o caso, creio que vale a pena começar por uma resposta cândida, não tão desencantada quanto poderá parecer: "Assim Nasce uma Estrela", de Bradley Cooper, com o próprio a partilhar o protagonismo com Lady Gaga, não é um musical.
Em boa verdade, os seus antepassados também não o são. Convém recordar, a este propósito, que este filme de 2018 é a quarta versão de uma história que já tinha sido filmada três vezes: com Janet Gaynor e Fredrich March, em 1937, com Judy Garland e James Mason, em 1954, e com Barbra Streisand e Kris Kristofferson, em 1976 (isto sem esquecer que a versão de 1954, dirigida por George Cukor, é uma das obras-primas absolutas do classicismo de Hollywood).
De facto, nenhum desses filmes é um musical: os dois primeiros passam-se mesmo nos bastidores do cinema de Hollywood, sendo o terceiro (precisamente aquele que inspirou directamente a nova versão) um "desvio" para as paisagens da música. Acontece que, de uma maneira ou de outra, todos eles celebram o poder da escrita melodramática.
O menos que se pode dizer do trabalho plural de Cooper (que acumula ainda funções de co-produtor e co-argumentista) é que se mantém fiel à dinâmica dessa escrita, privilegiando as vibrações da história de amor vivida pela sua personagem e pela cantora interpretada por Lady Gaga — trata-se de encenar uma paixão que se exprime através das canções, tanto quanto existe marcada pela dependência do álcool da figura masculina.
Surpresa, talvez (ou talvez não…), será o facto de, para além do impecável canto, Lady Gaga se afirmar como uma actriz genuína, transparente e subtil. Já foi dito e podemos repeti-lo: este será, provavelmente, o filme em que ela própria confirma o sentido primordial do título, nascendo como estrela (cinematográfica). E não será arriscado supor que ela "já" ganhou o Globo de Ouro de melhor actriz (musical/comédia)…
Seja como for, importa sublinhar o essencial. A saber: a performance de Lady Gaga não é uma proeza isolada no interior de "Assim Nasce uma Estrela". Porquê? Porque, para além das canções e, sobretudo, através das canções, o que aqui mais conta é a complexidade afectiva de uma relação vivida na corda bamba de muitas emoções. Se isso contribuir para alguma revalorização da música no interior dos filmes, tanto melhor…

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