No mundo de


joao lopes
20 Set 2018 14:49

Os seres humanos e os robots por eles inventados… Ou ainda: os robots nos lugares dos humanos, preenchendo as suas funções, porventura duplicando os seus afectos… São elementos clássicos da ficção científica que, em qualquer caso, possuem um fascínio regularmente reinvestido por novas narrativas — "Zoe", do americano Drake Doremus, é mais um sugestivo exemplo [Festival de Tribeca].

Pode dizer-se, aliás, que Doremus reforça, aqui, o seu empenho em experimentar variações sobre aquela herança clássica. Conhecíamos, de facto, o seu muito sugestivo "Iguais" (2015), com Kristen Stewart e Nicholas Hoult, situado também num futuro mais ou menos próximo em que o Estado tinha conseguido "simplificar" todas as relações humanas, abolindo as emoções… Agora, Zoe (Léa Seydoux) e Cole (Ewan McGregor) vivem uma odisseia de perturbante vacilação da fronteira homem/máquina.
Embora evitando expor os "segredos" da intriga, creio que será pertinente sublinhar uma ideia simples, mas essencial. A saber: o tema fulcral de "Zoe" não será exactamente o sistema de relações entre humanos e robots; em boa verdade, deparamos com um universo cujo envolvimento dramático começa, não da diferença entre uns e outros, mas sim na indiferenciação em que tudo acontece.
E pensamos, por exemplo, no caso recente da série "Westworld" (aliás, inspirada num filme homónimo de Michael Crichton, produzido em 1973). Seja como for, não se trata de encenar um jogo de aparências, mas sim de antecipar um tempo em que a conjugação da pesquisa científica e dos valores sociais gera inesperadas trocas entre seres vivos e máquinas… também vivas. No limite, "Zoe" é uma história de amor.

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