Crítica: "PATER"
Na intimidade do poder político
Ator e realizador. Presidente e primeiro-ministro. Alain Cavalier e Vincent Lindon. Ambos documentam os seus encontros e inventam uma ficção política.
O primeiro-ministro Vincent Lindon: actor cidadão com discurso ético, igualitário e com forte consciência política.
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Pater
Entre a realidade e a ficção, o seu mundo e o imaginário. Dois amigos a beberem num bar. A imaginarem que filme poderiam realizar juntos. Filmam-se disfarçados de homens poderosos. As suas histórias pessoais cruzadas com uma história simples. Assim é este filme, em que Alain Cavalier e Vincent Lindon percorrem as mais diversas situações que os colocam na verdadeira fronteira do cinema: é ou não ...
Imaginemos os bastidores do poder, o encontro entre dois protagonistas políticos, Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva. Imaginemos que ambos discutem as questões do Estado, saboreando um bom queijo, umas trufas, e partilhando um caloroso vinho. Ei-los comentado qual é a gravata mais adequada, avaliando o custo de um fato e assumindo que não pode ser demasiado caro, ou ensaiando a pose perante um espelho, trocando um conselho amigo.
Impensável? Estamos nos bastidores do poder ou na intimidade dos políticos?
Podemos imaginar que isso sucede projetando-os nas situações protagonizadas pelo realizador Alain Cavalier e o ator Vincent Lindon. Em "Pater", eles discutem questões de método de trabalho de um realizador e de um ator, debatem que filme farão/estão a fazer juntos, interagem como pai e filho, e a certa altura assumem os papéis de um Presidente da República (Cavalier) e do seu primeiro-ministro (Lindon).
Durante um ano, Cavalier e Lindon conviveram, ensaiaram uma relação de poder e construiram uma agenda política (discutindo questões concretas, como os tetos das reformas...). O poder é exercido na intimidade num filme pessoal que foi feito a partir de um esboço de argumento, um esqueleto de nove páginas que não tinha um único diálogo escrito.
Ficção? Documentário?
Este filme é um ovni, objeto estranho que baralha o espetador. Cavalier e Lindon parecem duas crianças divertindo-se perante câmaras digitais, numa farsa diletante que encontra eco na atualidade recente da vida política francesa. Mas brincando aos governos eles revelam um olhar surpreendente sobre as formas de encenação política e de representação no espaço público e mediático.
"Pater" é um óptimo exercício de cidadania, um dos filmes mais livres do ano e que desafia a nossa forma de encarar o modo como o poder (o teatro da política) é exercido perante… os nossos olhos.
Crítica de Tiago Alves
actualizado às 00:46 - 21 outubro '11
publicado 00:43 - 21 outubro '11