quando captura, na sua rede, uma ninfa aquática (Alicja Bachleda)
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Nem tudo o que vem à rede é peixe
"Ondine" é um conto de fadas contemporâneo onde a fantasia é possivel num contexto profundamente realista
Os filmes do irlandês Neil Jordan ensinaram-nos que a fantasia é um terreno muito... realista. Isso é mais evidente nas histórias filmadas na sua terra natal, onde tem concretizado as suas obras mais singulares e marcantes, aprofundando o tema da identidade e ambiguidade ("Jogo de Lágrimas" é o melhor exemplo disso).
A ambiguidade é um traço da personagem de Ondine (interpretada pela atriz polaca Alicja Bachleda), um ser misterioso que surge nas redes do pescador Syracuse (Colin Farrell), um homem solitário, enredado num divórcio complicado com uma mulher alcoólica com que partilha a custódia da filha Annie (Alison Barry).
O olhar da criança é determinante no adensar da fábula, já que ela reconhece em Ondine as características das mulheres foca, as selkies, criaturas míticas do folclore escocês.
Era uma vez... um pescador cuja sorte mudou depois de encontrar uma sereia - esta é a premissa fantasista do filme e que Neil Jordan sustenta, nomeadamente através da fotografia viva em contraste com um cenário piscatório socialmente deprimido pela crise económica.
"Ondine" não é o seu filme fantasista mais fulgurante ou surpreendente, mas é banhado por uma melancolia mágica que perdura mesmo num contexto profundamente realista. E que resiste à pergunta desarmante de Annie - "as histórias têm que começar sempre por 'Era Uma Vez'?".
por Tiago Alves
publicado 16:52 - 29 outubro '10