27 Nov 2019 17:57

Há doze anos, Martin Scorsese e Robert De Niro puseram os olhos no livro "I Heard You Paint Houses", de Charles Brandt, sobre a vida de um antigo assassino a soldo da Máfia italo-americana, Frank Sheeran, também conhecido como "O Irlandês". Entre outros crimes, Sheeran afirma ser responsável pelas mortes do sindicalista Jimmy Hoffa e do gangster Joe Gallo, dois casos que a polícia nunca foi capaz de resolver.

O realizador, hoje com 77 anos, procurava material suficientemente bom para uma nona colaboração com De Niro e uma nova incursão no tema do crime organizado depois de "Cavaleiros do Asfalto" (1973), "Tudo Bons Rapazes" (1990) e "Casino" (1995). "Não queria voltar a filmar com ele se não pudesse ir mais longe", afirmou durante um evento no American Film Institute, em Los Angeles.

Scorsese levou o projeto a diversos estúdios, mas todos recusaram financiamento. Foi preciso esperar pela Netflix. O resultado é "O Irlandês", um ambicioso filme com três horas e meia de duração que junta Al Pacino, Robert De Niro e Joe Pesci. Custou quase 160 milhões de dólares, foi rodado em 117 locais diferentes e inclui 309 cenas.

Em junho, em declarações à Associated Press, Martin Scorsese explicava que a Netflix foi a única disposta a custear o filme, encarecido também por causa dos efeitos especiais que permitem um rejuvenescimento dos atores ao longo do arco temporal da narrativa.

O novo procedimento técnico, desenvolvido pela Industrial Light & Magic (ILM, criada por George Lucas), batizado "de-aging", permite rejuvenescer um ator, ou atriz diretamente no ecrã sem recurso a maquilhagem.

Robert De Niro, de 76 anos, aparece assim a interpretar Frank Sheeran em 1955, quanto a personagem tinha 34 anos, e cinco décadas mais tarde, em cenas passadas em 2003. Da mesma forma. Al Pacino (79 anos) é capaz de encarnar Jimmy Hoffa na casa dos quarenta, sem qualquer problema.

"Queríamos que descobrissem uma solução de rejuvenescimento que não interferisse com as interpretações do Bob (De Niro), do Joe (Pesci) e do Al (Pacino)" explicou Scorsese em declarações citadas pela AFP, "que não tivessem de falar uns com os outros com capacetes na cabeça, ou bolas de ténis no rosto. Eles não o teriam feito."

De Niro reagiu bem disposto à forma como se viu no filme. "Vou poder prolongar a minha carreira por mais 30 anos", disse a sorrir na estreia mundial do filme no Festival de Cinema de Nova Iorque, em setembro.

O problema com "O Irlandês" surgiu quando a Netflix tentou furar a tradicional janela de 90 dias entre a exibição em sala e a estreia noutros suportes. As grandes cadeias de cinemas norte-americanas negaram-se a ceder naquilo que, para elas, é um princípio intocável, destinado a proteger a exibição em sala.

Ainda assim, a par da estreia na plataforma, a Netflix conseguiu que o filme passe em salas independentes, não só nos Estados Unidos, mas também noutros países. Segundo a Variety, "O Irlandês" terá a maior estreia em sala de um filme produzido pela Netflix, com exibição em 50 salas em Espanha, cem em Itália, cem na Coreia do Sul e 50 na Alemanha.

Em Portugal, não houve acordo com os exibidores, por isso, "O Irlandês" só será visto por quem subscrever o serviço da Netflix.

Mesmo assim, a plataforma de streaming esforçou-se por tratar o lançamento da mesma forma que qualquer estreia em sala e exibiu o filme para a crítica numa sessão que decorreu na Culturgeste, em Lisboa.

  • CINEMAX com agências
  • 27 Nov 2019 17:57

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