Elizabeth Moss e Claes Bang — afinal, qual é o lugar da arte  contemporânea?


joao lopes
23 Nov 2017 23:46

De que falamos quando falamos de arte contemporânea?… A acreditar no filme "O Quadrado", falamos de uma grande confusão, tanto no plano individual como institucional. Ou seja: o filme do sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro de Cannes (no passado mês de Maio) lança uma série de pistas, umas realistas, outras mais ou menos burlescas, para nos confrontar com as ambivalências do nosso mundo mediatizado.

Tudo se passa em torno da personagem do director (Claes Bang) de um museu de Estocolmo que se descobre assombrado pelos mais variados incidentes, desde a carteira que lhe roubam na praça do próprio museu até à conservação de algumas insólitas peças que tem em exposição… Isto sem esquecer a presença insólita, misto de sedução e ameaça, de uma jornalista (Elizabeth Moss) que o quer entrevistar.
Östlund combina tudo isso numa teia a que não podemos deixar de reconhecer agilidade e alguns efeitos desconcertantes. Não parece que o seu filme esteja muito empenhado em "dizer" algo de muito consistente sobre aquilo que coloca em cena (a integração do tema dos refugiados soa mesmo a demagogia fácil). O certo é que, por vezes, em grande parte através dos actores, "O Quadrado" consegue expor a falsidade intrínseca de tantas relações do nosso tempo, supostamente construídas em nome da transparência e do "progresso".
Certamente não por acaso, em Cannes, o filme foi visto por gente muito respeitável (a começar pelo júri presidido por Pedro Almodóvar) como um sugestivo reflexo de alguns impasses do nosso viver europeu… Talvez. Em todo o caso, nesse território e também na secção competitiva, "Happy End", de Michael Haneke, distinguiu-se, creio, por outra subtileza e uma bem diferente perturbação — digamos apenas que, para já, não consta das listas dos distribuidores portugueses.

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