O cinema constrói memórias
"Linha Vermelha", documentário sobre o documentário de José Filipe Costa

Documentário  

O cinema constrói memórias

Uma investigação sobre filmes no período pós revolucionário, transformou-se numa incursão actualizada ao período revolucionário. É o vencedor do prémio de longa-metragem portuguesa do IndieLisboa.

Cinemax Rádio:
Outros Áudios
Lara Marques Pereira entrevistou José Filipe Costa sobre a melhor longa metragem portuguesa da 8ª edição do Indie Lisboa

O realizador José Filipe Costa sabia da existência do filme "Torre Bela", é um dos mais emblemáticos dos tempos quentes de 1975, mas quando conseguiu vê-lo numa rara projecção em Lisboa, ainda estava longe de perceber que iria tornar-se tema do seu filme. Foi para o Ribatejo em busca de testemunhos daquele tempo e recebeu, muitas vezes, respostas contraditórias.

Em vez da nostalgia, pelo tempo que se seguiu à revolução, há o embaraço de alguns que participaram na tomada da herdade da Torre Bela. E muitos, usam o filme como referência para construir uma opinião, ou para falar de memória sobre aquele tempo. José Filipe Costa percebeu que o filme gravou uma verdade sobre os acontecimentos, tornou-se um documento, sem necessariamente ter sido o documentário sobre tudo o que aconteceu.

"Linha Vermelha" propõe uma revisão do assalto à Torre Bela, partindo do filme realizado pelo alemão Thomas Harlan. José Filipe Costa falou com protagonistas e com quem estava na equipa técnica, ao lado do realizador, supostamente, do lado de fora dos acontecimentos. Não há uma tentativa de repor a verdade, garante José Filipe Costa, porque o filme de 75 não mostrou mentiras, mas apenas uma parte da verdade, que é mais complexa e densa, e que pode perdurar no tempo, até aos dias de hoje.

Até onde o cinema e a existência de um filme foram essenciais para despertar as consciências na altura? "Linha Vermelha" propõe revisitar as memórias, mas deixa também uma inquietação, sobre o lugar do documentário perante a realidade. A voz de José Filipe Costa dirige-se directamente a Thomas Harlan, o realizador do documentário "Torre Bela" que assumiu claramente que também ele participou dos acontecimentos, movido do entusiasmo de um activista. "Linha Vermelha" não é uma releitura sobre o que aconteceu, mas uma nova abordagem ao que pode ser um filme documental, e de como o cinema pode inscrever memórias como se de factos se tratassem.

O filme faz parte de algumas das extensões programadas pelo festival Indie Lisboa, que vão correr várias cidades nas próximas semanas. Mais para a frente, talvez ainda este ano, possa chegar às salas.

 

 

 

por

Recomendamos: Veja mais Artigos de Documentário