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O gueto dos extraterrestres
Na sua estreia como realizador, Neill Blomkamp reinveste uma série de memórias da ficção científica, relançando-as de forma original e perturbante
Será que ainda existem soluções interessantes para lidar com as convenções da ficção científica? Em particular quando o género se cruza com algumas componentes do cinema de terror?
Tendo em conta "Distrito 9", de Neill Blomkamp (estreante apoiado na produção por Peter Jackson), as respostas são claramente afirmativas. Isto porque estamos perante um filme inequivocamente cinéfilo que sabe convocar algumas referências emblemáticas, desde a série "Alien" (com o corpo humano a gerar qualquer coisa de monstruoso) até a "A Mosca" de Cronenberg (com as fases cada vez mais inquietantes dessa gestação). Ao mesmo tempo, porém, este é também um filme que não se esgota na facilidade da citação ou da "cópia".
O seu efeito mais desconcertante — e também mais perturbante — tem a ver com o facto de, desta vez, os extraterrestres já estarem no nosso planeta, onde foram "integrados" de forma mais ou menos brutal, encerrados num gueto rigorosamente vigiado por forças militares. Além do mais, num detalhe de óbvias ressonâncias simbólicas, esse gueto foi construído nos arredores de Joanesburgo, acordando os fantasmas próximos do "apartheid".
Construído como se fosse uma reportagem, "Distrito 9" tem a inteligência de utilizar os efeitos especiais, não para sugerir um artifício mais ou menos futurista, antes para reforçar as componentes realistas da própria história. E tendo em conta o desenlace, não será arriscado prever que, muito em breve, vamos saber que está em preparação um "Distrito 10".

DISTRITO 9
De Neill Blomkamp
com Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt
Ficção Científica, Thriller
112m
M/16
EUA, NZ
2009
> Ouça o comentário de João Lopes
por João Lopes
publicado 10:07 - 29 setembro '09