Crítica: "A Rapariga do Capuz Vermelho"  

O lobo mau ainda mete algum medo

Uma versão mais crescida e com alguma flexibilidade moral de um conto que foi filmado em demasia na perspectiva das crianças.

O lobo mau ainda mete algum medo
Amanda Seyfried com o seu manto no set do filme: o vermelho na branquidão da paisagem é o estimulo da besta
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 O lobo mau ainda mete algum medo
A Rapariga do Capuz Vermelho Amanda Seyfried (de "Mamma Mia") protagoniza uma nova visão do clássico "O Capuchinho Vermelho" pela equipa de criadores que adaptou a saga "Twilight" ao grande ecrã. Numa aldeia medieval ameaçada por um lobisomem, Valerie (Amanda Seyfried) é uma rapariga que tenta escapar ao casamento imposto pelos pais. Apaixonada por Peter (Shiloh Fernandez), um lenhador orfão e solitário, a jovem planeia a ...

Hollywood retoma os contos clássicos e refaz as suas histórias de fantasia procurando ganhar as graças de novos públicos.

É neste contexto que Catherine Hardwicke, a realizadora do primeiro episódio da saga "Crepúsculo", assumiu a revisão do conto escrito por Charles Perrault, no século XVII, conjugando algumas referências originais com vários elementos e géneros contemporâneos.

Nesta nova versão da história do capuchinho vermelho (Amanda Seyfried), tudo acontece numa aldeia medieval mas apesar dessa referência de época, o filme tem um enredo policial, com um mistério adensado em torno da identidade do lobisomem que amaldiçoa a aldeia - aqui o lobo mau foi substituído por uma besta muito aparentada com a que vimos em… "Crepúsculo".

Além disso é servido por uma banda sonora electrónica contemporânea e reúne uma série de talentos que despertam o interesse dos jovens espectadores. No domínio dos valores de produção é uma visão conseguida de um tempo e de um lugar suspenso no tempo, o que se deve à qualidade dos adereços, guarda-roupa e direção de fotografia.

O filme segue as pisadas do clássico "A Companhia dos Lobos", embora não tenha a mesma intensidade grotesca e fantasista dessa revisão assinada por Neil Jordan, em 1983. Não é tão adulto, fica contido na intenção de corresponder às expetativas do público adolescente.

Apesar disso, atreve-se a explorar a dimensão sexual da história e tem uma flexibilidade moral no modo como equaciona o certo e o errado, ou confronta o belo com o horrendo. Há uma certa ideia de pureza e de castidade que se perde neste filme.

Isto leva-nos às duas questões centrais que tornam esta abordagem muito válida.

Por um lado é uma versão mais crescida de uma história com zonas sombrias e que foi demasiado explorada na perspectiva das crianças. Bem oportuno, no momento em que Hollywood prepara diversas revisitações das fábulas clássicas (estão projectadas três versões de "Branca de Neve" e não foi excluída a possibilidade da Disney refazer "A Bela Adormecida").

Finalmente, combina romance e terror de forma mais efectiva do que sucedia em “Crepúsculo”, validando o modo como Catherine Hardwicke trabalha os temas do universo adolescente.

Crítica de Tiago Alves actualizado às 00:27 - 15 abril '11
publicado 23:57 - 14 abril '11

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