Tom Hanks, Emma Watson e Patt Oswalt — como funciona o mundo virtual?


joao lopes
29 Abr 2017 3:13

De que falamos quando falamos de redes sociais?… Na verdade, falamos muito pouco. Ou melhor, falamos como se as ditas redes fossem um dado "natural", inscrito na ordem das coisas sem gerar efeitos específicos nas pessoas, seus pensamentos, emoções e relações. Um grande filme de David Fincher — intitulado, justamente, "A Rede Social" (2010) — já nos ensinou a importância de pensar tais questões. Agora, "O Círculo" segue na mesma senda.

Estamos longe da sofisticação e complexidade de Fincher, é um facto. Em todo o caso, a adaptação do livro de Dave Eggers, assinada por James Ponsoldt, possui o valor pedagógico de um objecto que não se remete à facilidade das aparências. Em boa verdade, é esse o drama vivido pela personagem de Mae (interpretada por uma Emma Watson finalmente liberta do espartilho de "Harry Potter"): ela vai descobrir os equívocos, armadilhas e imposturas da "transparência" digital.

 



Que é, então, essa "transparência"? Antes do mais, um discurso de marketing da grande empresa em que Mae vai trabalhar, promovendo a ideia pueril segundo a qual a integração dos dados dos seus clientes (desde o movimento dos e-mails até às formas de comportamento eleitoral) não passa de um "serviço" de boa vontade… De facto, Mae vai descobrir nas personagens dos seus chefes (interpretados por Tom Hanks e Patt Oswalt) a hipocrisia de quem tenta utilizar o mundo virtual como um sistema de formatação dos movimentos individuais.
Não simplifiquemos. "O Círculo" não é, obviamente, um filme "contra" o facto de termos computadores e telemóveis… O que nele se expõe, em sugestiva forma de conto mais ou menos policial, é a tensão interior de um universo em que a velocidade de circulação de informações pode iludir as acções dos indivíduos mais ou menos anónimos — é um filme deste tempo e, sobretudo, para este tempo.

+ críticas