(foto de Annie Leibovitz para a revista Vanity Fair)
Drama • Cinema Norte-americano
O regresso a Wall Street
Oliver Stone marca uma posição sobre a crise financeira e Michael Douglas aproveita para relançar a sua personagem mais memorável
Vinte e três anos depois do filme original, Oliver Stone reentra nos corredores globais da alta finança na sequência da actual crise económica. É uma sequela oportunista onde Oliver Stone respira o ar do tempo e ajusta o seu ponto de vista à perspectiva dos espectadores afectados pela crise, adoptando um tom crítico em relação à falta de regulação dos mercados financeiros e à ganância dos correctores.
A sequela tem uma dimensão ideológica que condena o modelo capitalista suportado pelo lucro especulativo, o que tempera o lado ganancioso que tornou Gordon Gekko num ícone para uma geração de correctores. A própria personagem aparece fazendo um percurso redentor, mas isso não amolece o fulgor com que Michael Douglas retoma o papel seminal e que lhe valeu um Oscar de melhor actor em 1987.
Douglas parece estar em condições de fazer algo único caso repita o prémio com o mesmo papel e tem possibilidades porque o filme perde vigor quando ele sai de cena. O mérito é dele porque todos os actores, incluindo os mais novos, aproveitam os bons diálogos para construir momentos de interpretação consistente.
A história do filme não fornece elementos surpreendentes que justifiquem a sequela. Mas Oliver Stone aparece muito seguro, compondo planos rigorosos e dinâmicos, emoldurados numa montagem ritmada por uma excelente banda sonora onde se escutam temas de David Byrne e Brian Eno numa homenagem clara à época do filme original.
Finalmente, esta sequela posiciona Oliver Stone como o realizador que ficcionou os temas marcantes da história norte-americana neste início de Século: o 11 de Setembro ("WTC"), a presidência de George W. Bush ("W.") e o colapso financeiro ("Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme"). Até parece uma trilogia, a trilogia do W, mas para Oliver Stone a história contemporânea oferece sempre pretexto para mais um filme...
por Tiago Alves
publicado 12:40 - 27 setembro '10