Clint Eastwood e Eduardo Minett: revisitando lugares e temas do


joao lopes
17 Set 2021 15:41

Basta um olhar, mesmo apressado, pela filmografia de Clint Eastwood (n. 1930) para reconhecermos que uma vertente essencial da sua trajectória passa pelo universo temático e mitológico do “western” — dos tempos heróicos de Itália, sob a direcção de Sergio Leone, desembocando em “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966), até às sagas que ele próprio dirigiu, com inevitável destaque para o “oscarizado” “Imperdoável” (1992).

Reencontramo-lo, agora, em “Cry Macho” (a que, entre nós, foi acrescentado o subtítulo “A Redenção”), ainda e sempre revisitando o imaginário do “western”, mesmo se a acção decorre na transição das décadas de 1970/80. De qualquer modo, este é um daqueles filmes que justifica a designação de “western” de fronteira, no sentido em que o seu drama envolve a passagem (e o regresso) dos EUA para o México.
Em termos esquemáticos, digamos que se trata de uma parábola sobre a ordem em forma de resgate moral. Ou seja: Clint interpreta um velho tratador de cavalos, ex-vedeta dos rodeos do Oeste, que viaja até ao México com o objectivo de trazer para o seu pai (Dwight Yoakam) um rapaz de 13 anos (Eduardo Minett), a viver uma existência de crescente degradação junto de uma mãe que o menospreza…
A Clint Eastwood interessa menos a logística “policial” (será que a missão se cumpre?… e com que incidentes?…) e mais os mecanismos de descoberta e revelação que a acção coloca em marcha. Em boa verdade, a relação que se vai estabelecer entre o velho e o novo está marcada por dois temas nucleares no universo do actor/cineasta, naturalmente herdados das matrizes clássicas do “western”. Primeiro: que herança passa (ou não passa) de pais para filhos? Depois: o que é, e o que significa, construir um lugar para viver?
“Cry Macho” impõe-se, assim, como mais uma expressão exemplar de um cinema que resiste à frivolidade “juvenil” dos actuais modelos de aventura e, escusado será sublinhá-lo, em total alheamento de qualquer ostentação ou endeusamento da tecnologia. Em última instância, esta é uma arte de personagens e actores preservada pela nobreza artística de um jovial cineasta com 91 anos de idade.

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