Isabel Ruth e Rui Gomes — quando Lisboa vivia uma transformação radical

24 Mai 2018 14:12

Teresa Villaverde, realizadora do filme “Colo” (2017), começou a trabalhar em cinema, em 1987, como anotadora no filme “O Desejado ou As Montanhas da Lua”, de Paulo Rocha. E não será abusivo considerar que muitos dos seus filmes, incluindo “Colo”, estão marcados por um desejo realista e social que não é estranho à herança do próprio Paulo Rocha — vale a pena, por isso, evocar a sua primeira longa-metragem, “Os Verdes Anos”.

Estamos perante um conto pessoal, que é também um drama colectivo — esta é uma história de um tempo em que a cidade de Lisboa acolhia muita gente vinda de todos os recantos do país, à procura de melhores condições de vida. Estava-se em 1963 e as chamadas “avenidas novas” eram o símbolo de uma prosperidade tão sedutora quanto equívoca.

"Os Verdes Anos” vai evoluindo através da história de relação entre uma criada e um sapateiro — ela é Isabel Ruth, ele Rui Gomes: as suas imagens, as suas vozes, os seus gestos ficaram inscritos na história do cinema português como elementos primordiais do Cinema Novo que estava a nascer. Sem esquecer, claro, que tudo isso se vivia e encenava através da música de Carlos Paredes.

Lisboa surgia como uma cidade em período de profunda transformação, como se as novas marcas arquitectónicas fossem os sinais ambíguos de novos estados de alma, de outras relações entre as gerações. Restaurado há poucos anos pela Cinemateca Portuguesa, o filme ajuda-nos a compreender melhor as raízes do nosso tempo, a sedução desses “verdes anos” que Teresa Paula Brito cantava num misto de alegria e tristeza, contemplação e utopia.

  • cinemaxeditor
  • 24 Mai 2018 14:12

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