Stephan James no papel de Jesse Owens — do mito à ligeireza histórica


joao lopes
7 Ago 2016 4:36

Eis um filme lançado a propósito dos Jogos Olímpicos, mas cuja visão, além de dificilmente contribuir para um enriquecimento da sua percepção, falha também no plano estritamente cinematográfico: "Race – 10 Segundos de Liberdade" pouco mais é, de facto, que uma abordagem ligeira de Jesse Owens (1913-1980) a esgotar-se, ingloriamente, no simplismo de soluções típicas de um vulgar telefilme "biográfico".

Escusado será sublinhar que Owens (Stephan James), atleta afro-americano vencedor de quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, é uma personagem fascinante. As suas vitórias, desde logo na prova dos 100 metros (a que alude o subtítulo português), suscitaram o mal estar do aparelho nazi, a começar por Joseph Goebbels que imaginara os jogos como uma consagração da "pureza" da raça ariana…



Infelizmente, o filme pouco mais consegue do que acumular situações de débil construção dramática em que até mesmo a utilização dos recursos digitais (nomeadamente para encenar as multidões do Estado Olímpico de Berlim) está marcada por uma inesperada indigência técnica. Dir-se-ia que o realizador Stephen Hopkins confundiu a dimensão mítica de Owens com uma automática complexidade narrativa.

A falha mais grave estará no tratamento pouco menos que anedótico da figura de Leni Riefenstahl, autora de "Olympia" (1938), o filme sobre os jogos encomendado por Adolf Hitler — o seu compromisso político com os nazis, tanto quanto a riqueza da sua linguagem cinematográfica, justificavam uma abordagem que não a reduzisse a uma figurinha sem espessura humana. Decididamente, em todos os planos expressivos, "Race" não consegue lidar com a complexidade da(s) história(s) que convoca.

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