Depois da mini-série


joao lopes
14 Jul 2020 2:00

Ao descobrirmos a nova realização do francês Olivier Assayas, "Wasp Network – Rede de Espiões", talvez seja inevitável recordar o seu "Carlos" (2010), desde logo pelo facto de ambos os filmes terem como protagonista esse brilhante actor que é Edgar Ramírez. Mais do que isso, num e noutro encontramos temas políticos da América Latina: primeiro, através do retrato de um terrorista venezuelano na década de 1970; agora, evocando cinco cubanos que, em finais dos anos 90, foram condenados nos EUA por acusações de espionagem ao serviço do regime de Fidel Castro.

Em qualquer caso, talvez que a semelhança maior ou, pelo menos, mais sugestiva seja o facto de os dois projectos serem devedores de uma lógica televisiva de série. No primeiro caso, essa ambivalência foi mesmo assumida, com "Carlos" a ser apresentado no Festival de Cannes, sendo depois lançado como mini-série; face a "Wasp Network", ficamos com a sensação de que a sua acumulação de factos e peripécias talvez necessitasse da duração, precisamente, de uma série ou mini-série.

Conhecemos a personagem de Edgar Ramírez através de um peculiar conflito dramático: ele parte para os EUA mentindo à mulher, interpretada por Penélope Cruz, supostamente para um novo emprego. Dito de outro modo: Assayas volta a interessar-se pelos choques da acção política e da vida familiar, num tom de secura descritiva que recusa "purificar" os intervenientes, seja qual for a sua identidade.
Daí, sem dúvida, a opção por um tom obsessivo de acumulação de detalhes (a fazer lembrar, justamente, a narrativa de "Carlos"). Dir-se-ia que a exposição dos conflitos políticos é tanto mais eficaz quanto Assayas encena o seu filme como se fosse uma reportagem. E consegue fazê-lo tirando o melhor partido de um elenco em que ainda encontramos, por exemplo, os nomes de Gael García Bernal, Ana de Armas e Wagner Moura; refira-se ainda, num pequeno papel, a presença do veterano cubano Tony Plana que conhecemos desde os tempos heróicos de "Salvador" (1986), de Oliver Stone.

+ críticas