Ruben Östlund celebra a Palma de Ouro recebida em Cannes por

30 Dez 2022 15:15

TRIÂNGULO DA TRISTEZA, Ruben Östlund

Cinco anos depois de "O Quadrado" (2017) o sueco Ruben Östlund voltou ao Festival de Cannes para vencer a segunda palma de Ouro da carreira, com um filme integralmente falado em inglês e novamente com a dose certa de sátira e crítica social. No final do ano o filme foi consagrado com seis prémios da Academia de Cinema Europeu.

A história de "Triângulo da Tristeza" acontece a bordo de um cruzeiro de luxo que transporta elites endinheiradas. O barco é uma espaço fechado que permite concentrar personagens propondo um olhar divertido, muito ácido, até grotesco, sobre a sociedade.

MOONAGE DAYDREAM, Brett Morgen


O documentário autorizado pela família de David Bowie é uma experiência de cinema e música que Brett Morgen realizou a partir de material inédito. Confrontado com horas de entrevistas e gravações de palco, Brett Morgen fez escolhas a partir de reflexões temáticas e canções, recusando a mera cronologia da vida de David Bowie.

Partindo do universo de Ziggy Stardust e percorrendo todo o percurso multifacetado de Bowie, o filme revela o homem que se esconde atrás do artista, o que pensava e de que forma isso se manifesta numa obra que marca a história da música. "Moonage Daydream" será durante muitos anos o filme definitivo sobre David Bowie e a forma como nos influenciou.

OSSOS E TUDO, Luca Guadagnino


Uma história de sobrevivência romântica é contada por Luca Guadagnino, no primeiro filme do realizador italiano em território norte-americano. Em plena década de 80, seguimos Maren e Lee, dois jovens desajustados que tentam sobreviver à condição de serem canibais, interpretados por Timothée Chalamet, que filmou com Guadagnino "Chama-me Pelo Teu Nome", e Taylor Russell, reconhecida com o prémio de talento emergente no Festival de Veneza.

Luca Guadagnino filma a paisagem americana com personagens atormentadas pela diferença e que anseiam por uma vida normal. "Ossos e Tudo" é um filme de afetos e de estranheza, uma história capaz de transpor as barreiras de género e de ter um apelo mais universal.

CORDEIRO, Valdimar Jóhannsson


Um dos mais singulares filmes do ano, chegou da Islândia, e marcou a estreia nas longas metragens do realizador Valdimar Jóhannsson. "Cordeiro" é uma obra no domínio do cinema fantástico e de terror, que se propõe explorar a relação dos humanos com a natureza.

É um filme desafiante ao contar uma fábula sobre forças da natureza, convertida em drama familiar. Valdimar Jóhannsson conjuga o realismo das rotinas da quinta e do trabalho rural, com o elemento fantasioso de uma criança diferente. Há muitas metáforas para desvendar e várias referências biblicas, num filme que convida à reflexão sobre os desequilíbrios da relação entre humanos e natureza.

PARIS 13, Jacques Audiard


A novela gráfica "Killing and Dying: Stories", de Adrian Tomine, é o ponto de partida do cineasta Jacques Audiard para traçar o retrato de uma geração e de um território urbano, em "Paris 13", nome de um bairro residencial, também conhecido como Les Olympiades, titulo original do filme.

O filme acompanha os percursos emocionais e profissionais de quatro personagens: a descendente de uma familia de Taiwan, decidida a cortar com as tradições da sua terra natal, um professor com ambições no ensino universitário, que se entrega a relações de sexo occasional, uma estudante sonhadora que vem do interior para Paris, e uma estrela do sexo na internet.

Filmado a preto e branco, "Paris 13" oferece uma visão diferente sobre a cidade que muitos conhecem e gostam de filmar.

CRIMES DO FUTURO, David Cronenberg


O titulo foi usado por David Cronenberg num filme realizado em 1970. Mas "Crimes do Futuro" não é um ‘remake’, surge como uma constatação de que argumentos antigos não perderam a validade, numa distopia sobre uma sociedade em que as mutações fazem parte do quotidiano.

Um filme político, eco consciente, e que propõe uma reflexão crítica sobre o lugar da arte. Como habitualmente, no cinema visceral de David Cronenberg há margem para a provocação, para a sátira e o absurdo. A caminho dos 80 anos, David Cronenberg continua a ser o cineasta do que está para acontecer, e já assumiu que tenciona cometer mais crimes do futuro.

NÃO TE PREOCUPES QUERIDA, Olivia Wilde


Na década de 50 do século passado, a cidade de Vitória é um lugar exclusivo e protegido, reservado a famílias de homens que trabalham num projecto secreto. Este é o lugar da acção de "Não Te Preocupes Querida", cujo argumento Olivia Wilde escreveu durante a presidência de Donald Trump, refletindo sobre o apelo nostálgico de tornar a América grande novamente.

"Não te Preocupes Querida" é um ‘thriller’ disfarçado de drama familiar, que pretende entreter com um elenco que cativa as plateias mais jovens, reunindo o cantor Harry Styles, a jovem Florence Puigh e o veterano Chris Pine. Mas é também um filme que propõe uma reflexão sobre quem somos, no presente, e como nos relacionamos com o mundo em que vivemos.

TODA A GENTE GOSTA DE JEANNE, Céline Devaux


Céline Devaux, uma ilustradora de 35 anos, premiada no cinema de animação pela Academia Francesa de Cinema e no Festival de Veneza, entrou na ficção de imagem real com uma comédia romântica sobre uma mulher a rondar os 30 anos, solteira, sem pretendentes, sem filhos, sem trabalho e sem dinheiro.

"Toda a Gente Gosta de Jeanne" passou pela semana da Crítica no Festival de Cannes, onde foi Comparado ao "Diário de Bridget Jones", mas Céline Devaux salienta que isso torna evidente que faltam filmes que retratem mulheres. O filme propõe uma personagem feminina do nosso tempo, com Lisboa em pano de fundo, e a participação da produtora portuguesa O Som e a Fúria.

A FILHA PERDIDA, Maggie Gyllenhaal


Uma história escrita pela misteriosa Elena Ferrante inspirou a estreia na realização da atriz Maggie Gyllenhaal, com um filme premiado no Festival de Veneza na categoria de melhor argumento.

No texto original, a voz de uma mulher, Leda, reflete sobre as prioridades da vida familiar e emocional, assumindo questões que assombram as mulheres e que tantas vezes são silenciadas. Maggie Gyllenhaal causou impacto com uma história profundamente feminina, corajosa e que afronta algumas ideias pré concebidas sobre a maternidade.


O PODER DO CÃO, Jane Campion


Jane Campion regressou ao cinema após de uma ausência de 12 anos, nos quais trabalhou em séries para plataformas televisivas.

"O Poder do Cão" propõe uma revisitação do género ‘western’ adaptando um romance de Thomas Savage – é uma história que acontece em Montana, 1925, e que foi filmada na Nova Zelândia.

No centro da história estão dois irmãos que cuidam da quinta da família, um homem culto e sensível e outro rude rude, bruto e amargo. A masculinidade é acentuada de forma a esconder uma enorme e compexa sensibilidade feminina.

Bom regresso ao grande cinema de Jane Campion com um filme recordista nas nomeações para os Óscares, em 12 categorias, e o prémio de melhor realização.

  • Lara Marques Pereira, Tiago Alves, António Quintas
  • 30 Dez 2022 15:15

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