Os Oscars (ainda) têm futuro?
Jeff Bridges e Hailee Steinfeld, em "True Grit": os Oscars face à reinvenção do "western"

Hollywood  

Os Oscars (ainda) têm futuro?

Até que ponto os Oscars conseguem sobreviver a todos os prémios que "antecipam" a sua atribuição? Eis uma questão artística, simbólica e televisiva que continua a desafiar o sistema de Hollywood.

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Nos últimos anos, a propósito dos Oscars, uma das preocupações vindas da América tem a ver com a crescente rarefacção da respectiva audiência televisiva. Ora, não é preciso ter feito uma tese universitária sobre o assunto para perceber que a cerimónida da Academia de Hollywood foi perdendo, quase por completo, o seu efeito de surpresa. À força da promoção mediática dos Globos de Ouro (e de mais 863 prémios de outras tantas associações...) como uma "antecipação" dos Oscars, estes parecem ter-se instalado numa triste falta de imaginação e diversificação.

Este ano, alguém terá pensado: "E se jogássemos o trunfo da juventude?" Convenhamos que é, pelo menos, uma tentativa de ultrapassar a inércia instalada. Assim, em vez de uma "tradicional" personalidade televisiva para a apresentação, teremos dois jovens actores — Anne Hathaway e James Franco — tentando criar o primeiro elo de sedução com o espectador.

A vitória mais que esperada de "O Discurso do Rei" como melhor filme do ano terá o efeito desconcertante de valorizar as rotinas e competências da produção da BBC contra as ousadias do próprio cinema made in USA. Daqui a vinte anos, com que se vai parecer O Discurso do Rei? Exactamente com o mesmo que agora: um bem intencionado telefilme, executado com a eficácia de uma indústria televisiva que sabe gerir a sua tradição. E o que se dirá de A Rede Social? Não sei, mas arrisco: que se trata de um objecto fundamental para compreendermos a viragem do conceito de indivíduo e relação nos primeiros anos do século XXI. Isto, claro, se daqui a vinte anos ainda houver indivíduos (e não apenas perfis) e relações (e não apenas links).

Apesar de tudo, os Oscars conseguem (re)desenhar uma curiosa paisagem criativa em que, para além de todas as formas de aproximação e contaminação, ainda há especificidades que sobressaem: de um lado, a produção dos grandes estúdios; do outro, os independentes. Daí que, justamente em relação aos independentes, haja um ganho simbólico que importa sublinhar: graças às nomeações, títulos como "Despojos de Inverno" e "Os Miúdos Estão Bem" (ambos revelações de Sundance e ambos na lista dos dez candidatos à estatueta de melhor filme) conseguem uma visibilidade, artística & comercial, que, por certo, seria impossível por qualquer outra via.

Nesta conjuntura, ao mesmo tempo sugestiva e limitada pelas fronteiras "competitivas", emerge o filme dos irmãos Coen: "True Grit / Indomável", uma das mais notáveis reinvenções do western clássico que surgiu nas últimas décadas. O significado dessa redescoberta das raízes de um género popularíssimo (aliás ecoado por uma fulgurante carreira comercial), conferem a "True Grit" o estatuto de filme que corre por fora, afirmando uma energia primitiva do cinema e do próprio sistema de Hollywood. A sua eventual consagração como melhor filme de 2010 seria a única possibilidade de, de facto, revitalizar os Oscars.

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publicado 19:54 - 26 fevereiro '11

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