joao lopes
17 Dez 2015 15:35

Só mesmo por monstruosa distracção ou estúpida ignorância se poderia abordar o novo episódio de "A Guerra das Estrelas" (é verdade, tempos houve em que as traduções para português não eram evitadas…) como se ele não surgisse enredado numa das mais agressivas campanhas de marketing de toda a história do cinema.

Daí que seja oportuno relembrar duas verdades rudimentares que o ambiente social, mais ou menos em "rede", tantas vezes mascara. Assim, em primeiro lugar: nenhum filme merece ser automaticamente consagrado, ou automaticamente desqualificado, por causa do poder da sua promoção. Depois: para além do marketing (seja ele inteligente, ou apenas manipulador), um filme é um objecto específico, um exercício narrativo, uma proposta dramática e darmatúrgica.
Por tudo isso, talvez seja salutar sublinhar o mais simples: ao dirigir o episódio VII da saga criada por George Lucas em 1977 (data de lançamento do primeiro título), J. J. Abrams enfrentava, precisamente, o desafio de relançar um universo que, melhor ou pior, nascia (e nasce) do gosto da grande aventura ligado a algumas matrizes da ficção científica.
O mínimo que se pode dizer é que "Star Wars: O Despertar da Força" cumpre o seu plano — dir-se-ia conservando o empreendimento sob o signo de George Lucas. Acima de tudo, superando os vícios tecnológicos e tecnocratas que, não poucas vezes, levam a conceber qualquer atitude revivalista como um exercício de "modernização" técnica.
Claro que estamos perante um objecto gerado através dos mais modernos recursos de uma indústria poderosíssima. Em todo o caso, o trabalho de Abrams e dos seus argumentistas, incluindo Lawrence Kasdan (ligado a alguns dos episódios anteriores e, como realizador, um dos nomes emblemáticos das décadas de 80/90), preserva a importância de dois vectores essenciais:
— uma dinâmica de aventura/espectáculo que não se esgota nas chamadas cenas de "acção", gerando-as antes a partir das tensões específicas da narrativa;
— a invenção de uma nova galeria/geração de personagens que, literal e simbolicamente, se assumem como herdeiras das figuras clássicas da saga.
Daí que, creio, seja importante sublinhar o modo como Abrams consegue integrar um novo e talentoso elenco para as personagens que, por certo, vão adquirir ainda maior peso nos episódios VIII e XIX (agendados para 2017 e 2019, respectivamente). Oscar Isaac, John Boyega e Adam Driver são alguns dos novos nomes, mas o destaque vai todo para Daisy Ridley, intérprete de Rey, um talento invulgar cujas capacidades excedem, como é óbvio, qualquer género de filmes.

+ críticas