Os Oscars também têm memória(s)
O quadro final dos Oscars: "Over the Rainbow" por um coro de crianças

Hollywood  

Os Oscars também têm memória(s)

As audiências televisivas voltaram a diminuir, mas a cerimónia dos Oscars mostrou uma real vontade de evolução. Sem esquecer o essencial: a pluralidade das memórias de Hollywood.

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Será que os milhões de espectadores que assistiram à cerimónia dos Oscars identificaram a canção cantada, no quadro final, por um coro de crianças? Quantos desses milhões reconheceram "Over the Rainbow"? E quantos associaram o tema a Judy Garland e ao filme "O Feiticeiro de Oz" (1939)?

Sejam quais forem as respostas a tais interrogações, o certo é que elas transportam um dos problemas simbólicos dos Oscars e, em boa verdade, da vida contemporânea do cinema. A saber: como preservar a imensa pluralidade da memória para os espectadores (ainda mais milhões) que confundem o cinema com um arquivo de downloads, sem tempo específico nem densidade histórica?

Escusado será dizer que não será uma cerimónia de Oscars a resolver semelhantes impasses, quanto mais não seja porque vivemos imersos numa cultura televisiva que, todos os dias, menospreza a complexidade de qualquer memória. Em todo o caso, da criação artística ao consumo, o cinema contemporâneo é esse universo ameaçado cujo património corre o risco de se dissolver na aceleração de links e ficheiros em circulação...

Daí que valha a pena destacar dois valores da cerimónia dos 83ºs Oscars da Academia de Hollywood: primeiro, a coexistência descomplexada entre novos e velhos (de que a presença exuberante de Kirk Douglas, a apresentar o prémio de melhor actriz secundária, terá sido o momento mais exemplar); depois, a presença efectiva dos independentes (Despojos de Inverno, Os Miúdos Estão Bem, etc.), alargando o horizonte para além dos clichés da "passadeira vermelha", "os melhores vestidos", etc.

A baixa verificada nas audiências televisivas (uma vez mais) mostra que este não é um processo linear e que, afinal, os Oscars continuam a ter uma implantação instável no calendário cinéfilo. Em todo o caso, a Academia mostrou o essencial: uma disposição salutar, sem preconceitos, para repensar os seus modos de apresentação pública. Os filmes de 2011 e a cerimónia de 2012 ajudarão a perceber se, realmente, como diria Mamet, as coisas mudam...

  • Os Oscars também têm memória(s)
    Hollywood
    Os Oscars (ainda) têm futuro?
    Até que ponto os Oscars conseguem sobreviver a todos os prémios que "antecipam" a sua atribuição? Eis uma questão artística, simbólica e ...
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publicado 02:11 - 02 março '11

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