Hollywood
Os cinco Oscars mais certos (?)
Prever os Oscars não tem nada de científico. Não se trata de fazer "justiça", mas sim de tentar perceber que valores artísticos, industriais e afectivos estão em jogo.
Permitam-me um desabafo pessoal: como cinéfilo, estou cansado das previsões dos Oscars que, tal como no futebol, decorrem do pressuposto segundo o qual há uma "justiça" que deve ser cumprida (quase sempre em nome da visão particular de quem formula a própria previsão). Na verdade, os prémios da Academia de Hollywood são... os prémios da Academia de Hollywood! E só mesmo por distracção ou arrogância se poderá pensar que os seus quase 6000 membros estão obrigados a satisfazer os pontos de vista de quem está de fora.
Na prática, isso significa que, este ano, a acreditar na esmagadora maioria dos sintomas acumulados, "O Discurso do Rei" vai ser eleito melhor filme do ano. Por mim, direi que não vejo comparação possível entre a competência académica e televisiva de "O Discurso do Rei" e a complexidade temática e o fulgor de linguagens de, por exemplo, "A Rede Social". Qual é o problema? Nenhum. Seja quem for a ganhar, acredito que a Academia conseguirá, no mínimo, celebrar as singularidades do cinema-cinema, resistindo a diluir-se na formatação televisiva (mesmo se é verdade que a cerimónia procura, muito logicamente, reforçar a sua posição na dinâmica das audiências de televisão).
Dito isto, vale a pena dizer também que há Oscars que parecem garantidos. Sublinho: parecem. Não tenho qualquer pretensão de adivinho e considero sempre anedótico, e profundamente incómodo, que o jornalista/crítico de cinema seja encarado como um "sacerdote" seja do que for.
São Oscars que, a confirmarem-se, envolvem factores de natureza artística ou simbólica que, de uma maneira ou de outra, justificam alguma atenção. Eis a lista dos cinco Oscars (quase) certos:
1 - COLIN FIRTH, melhor actor: ele é a renovada personificação de uma excelência de representação (shakespeareana) que o cinema americano sempre acolheu de braços abertos (de Laurence Olivier a Kenneth Branagh); além do mais, há em relação a Firth um movimento afectivo de consagração (é verdade: não há nada de científico nisto tudo e, felizmente, os afectos também contam), iniciado o ano passado com a nomeação para "Um Homem Singular", que deverá consumar-se no Oscar deste ano.
2 - CHRISTIAN BALE, melhor actor secundário: também de origem inglesa, é uma espécie de "patinho feio" do cinema americano, sempre notável em papéis de grande exigência dramática, desde que, aos 12 anos, rodou "O Império do Sol" (1987), sob a direcção de Steven Spielberg; a sua personagem em "The Fighter" envolve algo de tradicionalmente reconhecido pelos seus pares: um processo de transfiguração radical, do corpo ao olhar, passando pelo grão da voz.
3 - DAVID FINCHER, melhor realizador: desde a estreia na realização, com "Alien 3" (1992), mas sobretudo a partir do impacto de "Seven" (1995), ele congrega os valores clássicos do autor intransigente que sabe integrar os mais sofisticados avanços tecnológicos — mais do que muitos medíocres blockbusters, "O Estranho Caso de Benjamin Button" é uma data emblemática na evolução dos efeitos especiais; a consagração com a "A Rede Social" será o remate ideal do processo de reconhecimento inerente ao seu papel artístico e industrial.
4 - AARON SORKIN, melhor argumento adaptado: se é verdade que os grandes filmes começam nos grandes argumentos (Frank Capra não tinha hesitações em reconhecê-lo), então ele reeancarna o modelo do grande narrador clássico, inclusive com uma importante derivação televisiva, como criador/escritor/produtor executivo da série "The West Wing/Os Homens do Presidente" (1999-2006); goste-se mais ou goste-se menos de "A Rede Social", é simples reconhecer que a especificidade narrativa do filme passa toda pelo trabalho de Sorkin.
5 - ROGER DEAKINS, melhor fotografia: mesmo no domínio dos chamados Oscars técnicos, nove nomeações é coisa rara — é o que consegue este extraordinário director de fotografia através de títulos como "Kundun" (1997), de Martin Scorsese, "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" (2007), de Andrew Dominik, ou "Este País Não É para Velhos" (2007), dos irmãos Coen; agora, de novo com os Coen, "True Grit" deverá valer-lhe, finalmente, um Oscar.
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